São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Brasileira é libertada depois de 31 horas

FERNANDO CANZIAN
DO ENVIADO ESPECIAL

A advogada Maria Margarida Gonçalves de Gastell Emendi, 38, foi presa pelas autoridades bolivianas na terça-feira na cidade de Copacabana, às margens do lago Titicaca, oito horas antes de entrar em vigor o estado de sítio no país, decretado na noite de terça-feira.
Margarida foi a única cidadã brasileira detida na Bolívia junto com outros 376 sindicalistas, professores e manifestantes.
Ficou presa por 31 horas com outras 24 pessoas por estar participando de uma reunião do Conselho Andino dos Países Produtores de Folha de Coca.
Com ela, foi preso o líder dos plantadores de coca da Bolívia, Evo Morales, que continua detido.
Ela foi solta pelo governo da Bolívia anteontem à noite e voltou ontem para Lima, a capital do Peru, onde vive há 13 anos com o marido, o peruano Eduardo Gastell Emendi.
O embaixador do Brasil em La Paz, André Guimarães, disse que a liberação da brasileira "acaba com o único assunto do Brasil pendente na atual situação".
Leia a seguir a entrevista que Margarida concedeu à Folha antes de voltar ao Peru. (FCz)

Folha - Como foi sua prisão e libertação?
Maria Margarida Emendi - Estávamos reunidos no hotel Ambassador quando chegaram três caminhões com mais de 30 militares da Armada Naval que opera no lago de Titicaca.
Não houve violência e fomos levados para São Pedro de Tiquina, às margens do lago, onde dormimos em colchões estendidos no chão.
Na tarde de quarta, todos os estrangeiros foram trazidos a La Paz, onde ficamos detidos junto com presos comuns na Polícia Técnica.
Tive muito medo, pois recebemos o mesmo tratamento dispensado aos presos comuns. Depois, fui liberada por volta das 20h.
Folha - Ainda há estrangeiros detidos?
Margarida - Creio que sim. Quando saí, ainda ficaram dois colombianos, sete peruanos e uma norte-americana que estavam na reunião.
Folha - O que você estava fazendo nesta reunião?
Margarida - Sou assessora do Conselho Andino e estou terminando um mestrado em antropologia sobre a cultura e as mulheres plantadoras de folhas de coca, que é um cultivo legal na Bolívia, Peru e Colômbia. Não participávamos de nenhuma manifestação.
Folha - Mas o Conselho Andino não é reconhecido na Bolívia.
Margarida - Não está registrado. Acredito que fomos presos apenas por estar com um dirigente sindical. Mas três outros peruanos que estavam conosco, e que tratam politicamente o problema da coca no Conselho, acabaram expulsos da Bolívia.

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