São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 1995
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Produzir o salário mínimo

Produzir o salário mínimo
O aumento do salário mínimo de R$ 70,00 para R$ 100,00 a partir de maio deve trazer algum alício aos que passam o mês com esse irrisório rendimento. Na redução das disparidades de renda, o Brasil tem um longo caminho a percorrer. O aumento nominal dos salários mais baixos é apenas um lado da moeda, o outro é a manutenção da estabilidade dos preços.
Há décadas a inflação transfere renda dos setores mais pobres da população para os mais ricos. Esse processo agravou-se com as brutais inflações dos anos mais recentes. Qualquer que seja a regra salarial, o rendimento do trabalho sempre corre atrás dos aumentos de preços.
Controlar a inflação e ao mesmo tempo reduzir as disparidades de renda, entretanto, é um grande desafio. Para que o aumento do poder de compra dos setores de baixa renda não seja inflacionário, é preciso que haja um crescimento correspondente da oferta de produtos.
Assim, a elevação do salário mínimo terá um efeito menor sobre os preços se houver uma grande oferta de alimentos e se indústria for capaz de elevar rapidamente a produção. No longo prazo, a paulatina redução da extrema disparidade de renda existente no Brasil depende do redirecionamento de parte dos novos investimentos para produção de bens de consumo de baixa renda. É a disponibilidade de bens e não apenas o valor do salário que determina a distribuição do que é produzido em qualquer país.
As importações também permitem satisfazer o crescimento do poder de compra sem pressionar a inflação. Mas seu crescimento tem um limite: a disponibilidade de divisas do país. Assim, é mesmo na produção agrícola e industrial que reside o grande desafio de prover o país e evitar que as majorações salariais sejam corroídas pela inflação. O aumento do salário mínimo sinaliza às empresas que haverá um crescimento do mercado de bens consumidos pelos assalariados. Cabe a elas responder a essa demanda com maior produção.

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