São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Controle dos gastos opõe Serra ao PFL

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesa ainda o fato de que Serra adquiriu, desde sua gestão no Planejamento em São Paulo, uma verdadeira obsessão pelo controle do gasto público.
Por isso, mesmo predisposto a não criar atritos com o PFL, acaba colidindo com o partido quando retém a liberação de recursos por suspeitar da eficácia da obra ou serviço em que serão aplicados.
Onde as divergências ficam mais nítidas não é tanto nas posições de cada qual, mas nos apoios de Malan e Serra no mundo empresarial.
Serra chegou ao ministério com a bênção explícita do empresariado industrial paulista.
A Folha relatou à época de sua designação que seu nome foi mencionado por Fernando Henrique em uma reunião com os dirigentes do Iedi (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial), cuja cabeça mais notável é a de Paulo Cunha (grupo Ultra).
FHC perguntou o que eles achavam de Serra na Indústria e Comércio. Cunha devolveu na hora: "É a sopa no mel".
Talvez por isso e pela imagem de que o empresariado industrial é contra a abertura da economia, o setor financeiro pendeu definitivamente para Malan.
Não importa. Consolidou-se no empresariado essa divisão e o jogo político acaba sendo condicionado por ela.
Outro foco potencial de divergência entre Serra e Malan, o mais iminente deles ao menos, é a eventualidade de novas medidas de contenção do consumo.
Serra acha mais conveniente esperar um tempo para ver o efeito sobre a atividade econômica das medidas já adotadas para conter o consumo.
Já o pessoal da Fazenda parece mais inclinado a agir rapidamente. "Nós não temos dúvidas de que a economia continua muito aquecida", disse à Folha Pedro Parente, secretário-executivo e, como tal, o segundo homem do ministério, após Malan.
A hipótese de uma mexida ministerial tem, portanto, amparo tanto nas imagens como em divergências reais, ainda que menores.
Mas, pelo que a Folha apurou, o presidente ainda não fez os cálculos finais sobre custos e benefícios de mudar um time que, afinal, está ganhando ao menos no território da inflação.
Como gosta de dizer Pedro Malan, ela nunca foi tão baixa por tanto tempo, nos últimos 15 anos, sem congelamento, como vem sendo desde julho.

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