São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Crescem apostas de reforma ministerial

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Está aberta extra-oficialmente a temporada de apostas na relativa iminência de uma reforma ministerial, cujo eixo seria dar à política econômica um comando único.
O comando único vai se impor cedo ou tarde, avalia-se na liderança parlamentar governista, conforme ouviu a Folha.
Por extensão, abre-se a perspectiva de se confirmar uma avaliação mais ou menos generalizada que se fez quando José Serra foi nomeado ministro do Planejamento e depois se esqueceu.
Dizia-se, então, que seria inevitável um conflito entre Serra e Pedro Malan, também já nomeado ministro da Fazenda.
O círculo de amigos intelectuais do presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a admitir, em recente encontro com ele, que Serra e Malan simbolizam coisas diferentes, conforme a Folha relatou três semanas atrás.
O próprio presidente teria reconhecido, então, como inevitável que os interessados explorassem o "potencial de divergência" que havia entre os dois comandantes da economia.
O que só agora está ficando mais claro é qual é, se não o "potencial de divergência", o simbolismo que cada um dos dois ministros passa aos agentes econômicos.
Serra é tido, em alguns meios empresariais, como menos privatizante e menos favorável à abertura da economia do que Malan.
Pouco importa se a imagem é correta ou não. O fato concreto é que ela se tornou generalizada. E política se faz muito com base nas versões e não tanto nos fatos.
Divergência real havia em relação à política cambial. Serra jamais escondeu suas críticas ao que considerava exagerada sobrevalorização do real na sequência da introdução da nova moeda, em julho passado.
A crise mexicana, ocorrida entre a eleição de FHC e a posse, acabou dando razão a Serra, tanto que o governo já fez uma primeira correção no câmbio, ao introduzir as novas bandas cambiais no início de março.
Mas esse triunfo dos fatos sobre as teorias não significa, necessariamente, que, se de fato prevalecer a tese do comando único na economia, o comandante será Serra e não Malan.
É bom lembrar que Serra só se tornou ministro da área econômica depois de muita insistência. FHC chegou a insinuar que lhe daria a Educação, posto liminarmente rejeitado.
Mais: Malan foi designado ministro da Fazenda muito antes de Serra emplacar no Planejamento.
Se fosse o contrário, ninguém duvidaria de que Serra seria o comandante da economia. Logo, se FHC não pretendia, em janeiro, ter Serra como uma espécie de superministro, por que lhe daria agora o posto?
A favor de Serra, no entanto, joga uma avaliação feita pelo próprio presidente em reunião com correligionários entre a vitória e a posse.
O presidente admitia, então, que a equipe econômica do governo Itamar Franco, que ele chefiou como ministro e manteria como presidente, era excelente na formulação macroeconômica, mas tinha dificuldades na operação concreta e na elaboração de políticas setoriais.
Apostas
Política industrial e políticas sociais são temas que não frequentam, habitualmente, o universo mental da equipe, cujo chefe continua sendo Pedro Malan.
Serra, ao contrário, tem uma visão do Estado mais ampla do que a dos outros, chega-se a dizer na liderança governista, obviamente entre os partidários de Serra, conforme ouviu a Folha.
A favor de Malan, no entanto, passou a pesar o fator político. O PFL, partido que elegeu 35 congressistas mais do que o PSDB, inclinou-se totalmente por Malan.
Na prática, é menos uma opção pelo ministro da Fazenda e mais uma rejeição a Serra.
Um dos motivos é de cunho partidário: Serra e o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, tido como seu grande aliado no governo, são homens nitidamente do PSDB.
Mais: Motta ocupa um ministério que foi tradicionalmente do PFL desde o governo José Sarney.
Pode até não haver grandes divergências programáticas, hoje, entre PSDB e PFL.
Mas é evidente que, no jogo político mais miúdo, Serra e Sérgio Motta tendem a dar preferência aos tucanos e não aos pefelistas, habituados a tratamento oposto dos governos de turno.

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