São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Covas enfrenta 'chuva' de ovos e tomates

FERNANDO ROSSETTI; CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a uma "chuva" de bolas de papel, latas de cerveja, ovos e tomates, o governador Mário Covas voltou a defender ontem, em discurso, que recebeu "um Estado dilapidado".
Disse isso diante das cerca de mil pessoas -segundo a Polícia Militar- que se reuniram no Parque Ecológico dos Paturís, em Carapicuíba (Grande São Paulo), para uma festa de inauguração de duas quadras poliesportivas.
No público, havia cerca de cem professores e funcionários da rede estadual de ensino de São Paulo, em greve há 27 dias. Eles foram ao ato "apresentar suas reivindicações", segundo manifestantes.
"Eu briguei a vida inteira para que manifestações desse tipo ocorressem", discursou o governador. "Eu já enfrentei militares, não vou agora deixar de enfrentar quem quer que seja", acrescentou.
Ao seu lado, o prefeito de Carapicuíba, Fuad Chaucri (PDT), desviava com a mão os objetos lançados pelo público. Salvou Covas de ser atingido por pelo menos dois ovos -embora um tenha respingado sobre a perna do governador.
Quem estava mais para trás -como o deputado federal Cunha Lima (PDT) e o secretário de Comunicação, Alexandre Machado- não teve tanta sorte. Os dois foram atingidos no peito e na cabeça, respectivamente.
Chaucri pegou um dos tomates caídos no palanque e arremessou de volta sobre os manifestantes. Além dos professores e de moradores de Carapicuíba, a multidão era engrossada por membros da Gaviões da Fiel (torcida organizada do Corinthians), que fariam apresentação mais tarde na festa.
As reações do público eram tão diversas quanto a sua composição. Enquanto os professores vaiavam e os Gaviões gritavam, uma parcela da audiência aplaudia, incentivada pelos políticos.
Terminado o discurso, Covas saiu da linha de frente enquanto seguranças avançaram sobre os manifestantes com cassetetes de borracha. Não houve feridos.
Aniversário
O evento começou mais tranquilo. Na abertura, uma banda tocou "parabéns a você" em homenagem ao governador, que completou 65 anos ontem.
O ministro José Serra (Planejamento), que estava na cidade -considerada um de seus redutos eleitorais-, deixou o local quando começaram as vaias.
Mas Pelé (ministro dos Esportes) e Francisco Weffort (ministro da cultura e morador de Carapicuíba) ficaram e fizeram discursos. Não foram atingidos por objetos.
"Eu sou representante do povo, vocês sabem", disse Pelé ao público que vaiava o governador. "Eu entendo a manifestação, mas Covas não tem culpa. O Brasil está mudando, mas é preciso tempo."
Ao final, trêmulo e vermelho, Covas negou que estivesse abalado pela manifestação. "Vou ficar aborrecido se isso acontecer no final do meu governo. Eu vou cumprir meus objetivos", disse.

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