São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Governo vai baixar novo pacote para frear consumo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Até o final da próxima semana, o governo deve baixar mais um pacote para esfriar a atividade econômica e restringir o consumo. Havia divergências no governo sobre a necessidade dessa medida. Nesta semana, porém, formou-se o consenso de que é necessário, já.
Contribuiu para formar esse consenso a informação do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de que a economia brasileira cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano.
Todas as contas do governo indicam que, se a economia crescer mais do que 5%, ficam comprometidos os objetivos essenciais de manter a inflação anual abaixo dos 30% e obter um superávit de US$ 5 bilhões no comércio externo.
Essas coisas se relacionam da seguinte maneira: quando o consumo interno está muito alto, isso, de um lado, aumenta a procura por produtos importados e, de outro, desestimula as exportações, pois é mais simples vender aqui mesmo. Além disso, se o consumo cresce mais depressa do que a produção, surge a tendência de aumento de preços.
É o que já vem acontecendo. Os preços dos produtos industriais, que vinham subindo menos de 1% ao mês, passaram em abril para uma faixa acima de 2%.
Finalmente, o governo não se convenceu com os argumentos de empresários e comerciantes que insistem na queda do consumo.
E há dois enormes fatores de crescimento do consumo mais à frente: o Dia das Mães e o aumento do salário mínimo e dos salários atrelados a ele, que injeta mais R$ 1,4 bilhão no mercado.
A atividade econômica se mede, em última instância, pelo nível de consumo. E o consumo se faz, neste momento, essencialmente através da compra a crédito. É aí que o governo vai atacar.
E a forma é retirar da praça o dinheiro disponível para financiamentos. Toda vez que alguém compra a crédito, na outra ponta há alguém emprestando dinheiro.
Esse dinheiro circula basicamente através dos bancos. Assim, o governo vai tomar medidas que obriguem os bancos deixar mais dinheiro parado no Banco Central.
Hoje, toda vez que um banco empresta R$ 100, tem que depositar R$ 15 no BC. E o dinheiro fica lá sem remuneração. Este depósito pode se tornar progressivo.
Sobre o dinheiro que captam para aplicações a prazo, os bancos têm que depositar 27% no BC. É possível que esse depósito passe a 30% (como era em janeiro) e tenha de ser feito em dinheiro (hoje, é através de títulos públicos).
Os bancos também têm que deixar no BC 90% do dinheiro que recebem como depósito à vista, desde que esse depósito exceda o que os bancos tinham em junho de 1994, na véspera do Plano Real. De algum modo, o governo deve aumentar esse compulsório, talvez passando-o para 100% e aumentando a base de cálculo.
O governo provavelmente vai intervir também em negócios que estão driblando as restrições ao crédito. É o caso das chamadas empresas de "factoring" que, entre outras coisas, compram os cheques pré-datados recebidos pelas lojas. Hoje, elas estão fora da legislação. Podem ser enquadradas.
Podem ser tomadas também novas medidas para reduzir as importações. É quase nula a chance de uma nova desvalorização do real.
Mas podem ser elevados os impostos de importação de um elenco maior de produtos.

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