São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Bactérias podem 'desobedecer' seleção natural

DA REDAÇÃO

Dois artigos publicados na revista "Science desta semana sugerem que a teoria da evolução mais aceita não está de todo correta -ou, pelo menos, completa.
Pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e da Universidade de Utah, ambos nos EUA, apresentam novos indícios de que pelo menos algumas mutações ocorrem quando são necessárias -e não ao acaso.
Ou seja, uma seleção natural faz os seres mais fortes ou mais altos, por exemplo, sobreviverem.
O darwinismo se estabeleceu, enquanto a teoria rival, chamada lamarckismo, foi descartada.
Segundo esta teoria, a evolução não ocorre através da seleção dos mais aptos, mas através da capacidade de um organismo mudar e transmitir essa mudança aos descendentes.
O exemplo clássico do lamarckismo é o das girafas, que iam "esticando o pescoço para alcançar as folhas mais altas das árvores. Os descendentes delas já nasciam com o pescoço "alongado.
Décadas mais tarde, quando os genes, sua estrutura e funcionamento foram descobertos, surgiu o neodarwinismo, que aplica a biologia molecular às teoria do naturalista britânico.
Uma das principais conclusões do neodarwinismo é o conceito da mutação -que surge ao acaso e modifica o organismo. A diferença pode torná-lo mais forte ou alto, por exemplo -e, portanto, mais apto para sobreviver.
O neodarwinismo está se sofisticando tanto que surgiu, em 1988, a teoria das "mutações adaptativas. A teoria diz que as mutação nem sempre são casuais: o ambiente pode provocá-las.
Parece lamarckismo. Os dois artigos da "Science relatam mecanismos em bactérias E. coli e salmonelas que provocam mutações aparentemente quando estas são úteis para as bactérias se adaptarem ao ambiente em que se encontram. É quase como se a necessidade por um pescoço mais longo pudesse provocar uma mutação.
Para os especialistas, vai ser necessária mais pesquisa para saber se essas mutações são lamarckistas ou "pós-neodarwinistas.

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