São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Mortos e desaparecidos são mais de 200

MAURO TAGLIAFERRI
ENVIADO ESPECIAL A OKLAHOMA CITY (EUA)

Subiu para 65 o número oficial de mortos no atentado contra o edifício Alfred Murrah, em Oklahoma City. Mortos e desaparecidos já somam 215.
O chefe do Corpo de Bombeiros de Oklahoma (centro-sul dos EUA), Gary Marrs, negou relato do governador do Estado, Frank Keating, segundo o qual haviam sido encontrados 50 cadáveres enterrados sob os destroços.
Mas Marrs disse que as equipes que estão trabalhando no resgate já localizaram diversos outros cadáveres ainda não computados no número oficial.
Mais de dois dias se passaram sem que ninguém fosse retirado com vida dos escombros do edifício, destruído pela explosão de carro-bomba pouco depois das 9h de quarta-feira (11h em Brasília)
Cerca de 460 pessoas ficaram feridas com a explosão, que matou pelo menos 12 crianças que estavam numa creche. Cerca de 70 permanecem hospitalizadas.
"Não temos sobreviventes desde a noite do primeiro dia", disse o assistente de Marrs, Jon Hansen. Ele admitiu que as chances de encontrar alguém com vida eram cada vez mais escassas.
Mesmo assim, equipes de resgate continuavam a escavar os porões do prédio a partir de suas duas extremidades.
Segundo a polícia, as equipes passaram a se concentrar nas partes do edifício que desabaram, após passarem um rigoroso pente-fino naquelas que resistiram à explosão do carro-bomba.
"Nossos sensores não estão detectando absolutamente nenhum som de sobreviventes", disse Dan Schroeder, do grupo de Busca e Resgate Urbano da Califórnia, experiente por sua ação no resgate a vítimas de terremotos.
A Cruz Vermelha fez apelos por suprimentos, estojos de primeiros socorros e auxílio veterinário, para cães farejadores cujas mandíbulas foram feridas no ferro retorcido.
Ainda havia preocupação entre as equipes de resgate de que o resto do prédio viesse a desabar.
Segundo o responsável pela Agência Federal para Tratamento de Emergências, James Lee Witt, disse que a explosão provocou danos em pelo menos 75 imóveis das imediações.
Quando o edifício de escritórios do governo federal desabou, Raymond Washburn, 48, cego durante a maior parte de sua vida, levantou uma pilha de entulho do meio das pernas e ajudou uma funcionária que soluçava a se salvar.
"Tentei correr, mas não conseguia", disse Washburn no Hospital St. Anthony. "Tudo continuava a cair". Mas, ao ouvir os gritos da funcionária Kim Wallace, conseguiu se levantar e ir para um local onde era possível andar.
Então ela segurou o corpo do cego. "Calma, vamos conseguir sair daqui", disse Washburn naquela hora. Normalmente o vendedor de doces e sanduíches, que também preside uma associação de cegos vendedores, só caminha com ajuda de uma bengala.
À medida que ajudava a mulher a se afastar, Washburn não percebeu que estavam se dirigindo para a frente do prédio, que havia desabado. Então foram alertados e deram a volta, descendo por uma escada na parte de trás.
Nos centros médicos, começou a tarefa de identificação dos mortos. Listas não-oficiais eram espalhadas por Oklahoma City.
"Pode levar ainda vários dias até que as equipes deixem de escavar os escombros", afirmou o prefeito da cidade, Ron Norick.
O centro continuava ontem bloqueado pela polícia e pelo Exército, que controlavam a identidade daqueles que podiam se aproximar do Alfred Murrah.
Ruas repletas de estilhaços estavam fechadas ao tráfego. Empregados de edifícios não muito danificados voltaram ao trabalho.

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