São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Cultura da vida

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Grande consternação golpeou o mundo com a sequência dos últimos atos terroristas. Estamos a um mês do terrível atentado em Tóquio, nas estações do metrô. Na quarta-feira, novo crime em Yokohama atingiu mais de 500 pessoas com outro tipo de gás tóxico. No mesmo dia, brutal explosão em Oklahoma City reduziu a escombros o edifício Alfredo Murrah, de oito andares. Já foram encontrados 57 mortos e há mais de 200 desaparecidos, além de 400 feridos. O resgate das vítimas continua sem grandes resultados, apesar dos intensos esforços das equipes de socorro.
Infelizmente, ainda na mesma data, um carro-bomba explodiu contra o automóvel do presidente do Partido Popular Espanhol, José Maria Aznar. Salvou-se devido à forte blindagem de seu carro, mas houve feridos.
Ameaças de bombas espalharam o terror em Boston e outras cidades dos Estados Unidos. Houve ainda explosões na Grécia e no Canadá.
Como interpretar esses atos terroristas? Tudo indica que estão ligados a extremismos políticos e religiosos. Diante dos corpos destroçados de Oklahoma, entre os quais muitas crianças, percebemos o desatino do uso da violência, sacrificando vidas inocentes, disseminando o medo e o pânico pela dificuldade em se garantir um esquema de segurança entre atos irracionais.
As inúmeras declarações de governos contra os ataques terroristas vêm fortificar a convicção de que a violência não pode ser solução para nenhum problema humano. Há, no entanto, algo mais profundo que deve refletir a humanidade. É a urgência, conforme a recente encíclica do papa João Paulo 2º, de promovermos a "cultura da vida", rejeitando o uso da violência, a guerra, o homicídio -incluindo o aborto e a eutanásia-, e procurando lutar contra a miséria que causa a morte de milhões de inocentes.
A 50 anos da bomba atômica de Nagasaki e Hiroshima, exorta João Paulo 2º os governantes para que abandonem a fabricação de armas nucleares, estabelecendo um sistema de entendimento e arbitragem para solução de conflitos.
A única defesa eficaz contra o terrorismo, no entanto, encontra-se na esperança da "cultura da vida", cujo fundamento está em reconhecer a presença e ação de Deus, que nos cria por amor e é a fonte da inviolabilidade de toda vida humana.
É preciso criar confiança no valor do diálogo e dos métodos pacíficos, e também imunizar jovens e crianças contra o uso da violência. Isto exige um longo processo de educação. Assim, é urgente que os meios de comunicação social desistam definitivamente de produzir e projetar filmes que incentivam a violência e injetam na consciência juvenil a impressão de que a razão está do lado do mais forte. Neste sentido, saudamos os esforços da Abrinc e, agora, da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro contra a comercialização de brinquedos que reproduzam armas de fogo.
A cultura da vida e a erradicação da violência requerem um esforço conjunto de todas as nações para eliminar as desigualdades entre ricos e pobres. Este apelo à solidariedade deve atingir a todos, especialmente no Brasil, onde o esperado aumento do salário mínimo, precisará ser complementado por uma campanha por novos empregos, acesso à terra, atendimento à saúde e luta contra a mortalidade infantil.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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