São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Mais miséria

Mais miséria
É alarmante o perfil da pobreza na Grande São Paulo, revelado por pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Cresceu 42,2% o número de famílias vivendo em situação de miséria absoluta entre 1990 e 1994, período em que a economia brasileira passou pela recessão provocada pelo Plano Collor e depois reagiu, crescendo durante a gestão Itamar.
A Seade calcula em cerca de 2,3 milhões os indivíduos carentes de tudo, que vivem sem dinheiro para comprar uma cesta básica, ou seja, estão abaixo do limiar de R$ 49,87 por mês. A sua miséria, entretanto, não se define apenas pelo nível de renda, mas pela precariedade do emprego (são pessoas desempregadas ou fazendo "bicos"), pela falta de acesso a serviços básicos nas áreas de saúde e habitação.
A pesquisa revela ainda que aumentou não apenas a faixa dos miseráveis, mas também a dos que ganham mais. Ou seja, os extremos se ampliam. Os ricos tornam-se mais ricos e os pobres tornam-se, cada vez mais, miseráveis. A diferença entre os maiores e menores salários, que era de 21 vezes há quatro anos, ampliou-se e agora chega a 31 vezes. A taxa de desemprego passou de 9,6% para 14,2%. Entre os miseráveis, os desempregados passaram de 18,1% para 24,6%.
A pesquisa revela também um paradoxo. A redução no emprego acabou levando mais gente às escolas, por exemplo. Na faixa etária de 10 a 17 anos a parcela dos que "só estudam" passou de 54,9% para 64,1%. Mesmo entre os miseráveis aumentou o número dos que procuram compensar nas salas de aula as carências de renda. Houve redução no analfabetismo.
Outra revelação é a diminuição do grau de participação em partidos políticos e sindicatos. A princípio parece razoável imaginar que as chamadas "organizações populares", diante do agravamento da crise social, invistam mais na mobilização do "povo". É difícil avaliar se houve de fato esse investimento ou mobilização, mas a pesquisa revela que o número de famílias com participação política despencou de 23,1% para 11,8% dos pesquisados.

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