São Paulo, sábado, 22 de abril de 1995
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Realismo

Realismo
As medidas adotadas até agora pelo governo para reverter o desequilíbrio nas contas externas ainda estão longe de garantir um horizonte tranquilo para os agentes econômicos. As importações em março chegaram a US$ 4,734 bilhões, nada menos que 110% a mais que em março de 94. O déficit comercial expressivo em março, da ordem de US$ 935 milhões, torna o desafio dos próximos meses ainda maior.
Chega a ser patético o exercício de aparente tranquilidade com que os economistas do governo comentam esses resultados. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, afirma, por exemplo, que a reversão do quadro está próxima, pois o fechamento de contratos e de câmbio para importação caiu da média diária de US$ 165 milhões em abril. Parece bastante evidente que uma queda de menos de 15% é insuficiente para justificar a crença na reversão de um aumento de mais de 100% no patamar de importações. A situação externa não é fruto apenas dos fluxos de comércio. Envolve fluxos financeiros que continuam negativos. Ou seja, ainda não se reconquistou a confiança dos mercados na estabilidade cambial.
O dilema, se a reversão dos déficits comerciais e financeiros não ocorrer com a rapidez que os técnicos do governo esperam, será partir ou não para uma desvalorização cambial mais ousada. Já há quem proponha o recurso a sistemas de quotas, ou seja, a reedição da velha prática de simplesmente proibir importações para gerar um superávit na marra. Seria uma forma de evitar os impactos inflacionários de uma desvalorização cambial mais forte.
Mas as quotas também têm efeito inflacionário. Se a procura interna por bens ainda estiver aquecida, um real sobrevalorizado provocará o contrabando e o ágio. E a proteção facilitará o aumento de preços no mercado interno.
Não há saída óbvia para o dilema câmbio X inflação. Mas seria mais fácil encontrá-la se o governo encarasse o problema com um pouco mais de realismo.

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