São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995 |
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Texto aborda psicologia do prisioneiro
LUÍS NASSIF
Embora perpassado por certo psicologismo barato, a identificação das formas de comportamento demonstra longa experiência acumulada. Nas técnicas de interrogatório, sugere-se explorar qualquer fraqueza de caráter, "como medo, hábitos nervosos ou, inversamente, excesso de autoconfiança". Qaunto à preparação do ambiente do interrogatório, recomenda-se que seja feito fora das vistas e ouvidos dos outros prisioneiros, com um mínimo de distrações visuais, e com o prisioneiro numa posição de inferioridade. O relatório relaciona série de pressões que devem ser utilizadas pelo interrogador. Entre elas: "a inatividade forçada, o medo do desconhecido, mudança de expectativas, confinamento, alimentação, falta de sono e sonho, medo de punição e falta de conforto". O documento aponta quatro métodos básicos de aproximação com o interrogado: aproximação insensível, mecânica e fria, aproximação ameaçadora -onde não deve haver violência física, mas o interrogador deve gritar, gesticular, ameaçar com gestos, insultar e usar de sarcasmo-, aproximação aparentemente tola, utilizada contra o prisioneiros que está falando, mas do qual se suspeita estar mentindo e aproximação simpática e amigável, particularmente se o prisioneiro passou por maus momentos antes do interrogatório. Nada de burocratismos na escolha do método. "O interrogatório é uma arte, não uma ciência", diz o documento. Em vários trechos, o relatório procura coibir o "emprego da violência indiscriminada" e enfatizar sua ineficiência. Do ponto de vista estratégico, "não conduz à vitória definitiva (...), cria condições para campanhas internacionais contra as torturas, que vão sendo engrossadas por inocente úteis e humanistas (...), produz grande desgaste internacional (...), proporciona apoio psicológico e emulação aos grupos subversivos, estimulando-os ao prosseguimento das ações". No fecho, o relatório produz uma definição de si próprio: "O processo apresentado neste documento é, acima de tudo, uma forma humana, consentânea com a mentalidade brasileira e com nossas tradições cristãs. É, entretanto, um método duro, frio e objetivo. Deve ser estudado com vistas à sua atualização e adaptação às nossas reais necessidades". (LN) Texto Anterior: Documento do Exército admitia a tortura Próximo Texto: Veja como surgiu o relatório Índice |
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