São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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'Paguei para salvar meu filho'

ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mecânico A.R.S., 41, diz que tentou de tudo para salvar a vida do filho, morto numa chacina ocorrida em fevereiro na Grande São Paulo. O filho tinha 18 anos e era viciado em crack.
"Eu sabia que meu filho era ameaçado de morte por causa de dívidas com traficantes. Pouco antes de ele morrer, eu fui à casa de um traficante para pagar R$ 50 que ele devia. Mas acho que ele morreu por causa de alguma dívida", diz.
O filho de A.R.S. foi morto a tiros ao lado de dois outros homens. Até hoje, nenhum suspeito foi preso. Segundo a polícia, o rapaz já tinha sido preso por roubo.
Ele não trabalhava. Parou de estudar aos 17 anos, quando começou a usar crack.
A.R.S. diz ter perdido as contas de quantas vezes seu filho furtou objetos de casa para vender e comprar crack.
Segundo o pai, ele levava desde botijões de gás até roupas e relógios. Até pouco antes de morrer, ele ainda furtava objetos de casa.
"Uma vez ele levou um par de tênis do irmão, que tinha custado R$ 120,00, e vendeu por R$ 30,00. Comprei outro, também por R$ 120,00, e ele furtou de novo."
A.R.S. diz que no começo teve raiva do filho, mas depois ficou com pena e tentou ajudá-lo. "Antes ele fumava maconha. Quando começou a consumir crack, a vida aqui na minha casa virou um inferno. Tentamos arrumar tratamento para livrá-lo das drogas. Só que é muito caro. Quando conseguimos um mais barato, ele ficou com medo e não quis ir."
Segundo o mecânico, o rapaz sempre falava que queria largar as drogas. "Apesar do envolvimento com o crack, ele nunca foi violento. Sempre respeitou a família e nunca gritou comigo. Conversávamos bastante e éramos muito amigos."
A.R.S. diz que "o crack está acabando com as pessoas". Que está disseminado na periferia das cidades e acabando com o sossego dos pais.
A.R.S. tem dois outros filhos, que, segundo ele, não dão motivos para preocupação.

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