São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Maioria dos crimes tem relação com crack

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 60% das chacinas deste ano na Grande São Paulo havia entre as vítimas pelo menos um consumidor ou traficante de crack.
No entanto, os dados indicam mais uma disseminação dessa droga na periferia das cidades do que uma suposta guerra entre traficantes como causa das chacinas.
Em apenas três ocasiões (20%), os depoimentos na polícia e entrevistas com moradores dos locais dos crimes permitem levantar a hipótese de que as mortes estejam relacionadas diretamente à droga.
Apesar do grande número de chacinas em que pelo menos uma das vítimas tinha antecedentes criminais (nove), a maioria dos assassinados, ou feridos, não registrava passagem pela polícia. Algumas sequer sabiam quem eram aqueles que foram mortos ou baleados ao seu lado.
Em muitos das chacinas, as vítimas foram condenadas por estarem nos mesmos locais frequentados por pessoas tidas como "alvos" tradicionais de matadores contratados.
No crime do fim-de-semana passado, num bar em Guarulhos, uma das vítimas era borracheiro. Morreu quando ajudava os outros chacinados, seus desconhecidos, a carregar uma geladeira.
Em outro caso, o menino E.B, 12, estudante da 6ª série, foi morto com um tiro na cabeça quando via TV na casa da vizinha A.S.P, no Jardim São Luiz (zona sul de SP), em 14 de janeiro.
A casa era ponto de venda de drogas e de divisão de furtos, mas E.B. nada tinha a ver com o caso. O irmão de A.S.P., viciado em crack, foi morto ao lado da namorada, também viciada.
Na chacina do Jardim Peri (zona norte), os cinco mortos trabalhavam e/ou estudavam, não eram acusados por vizinhos nem haviam se envolvido em crimes. A polícia não tem pistas das causas.
Fim-de-semana
O rosto típico das vítimas tem outros traços básicos. São homens (83%), brancos ou pardos (87%). O número de desempregados e o dos que têm alguma espécie de trabalho é aproximadamente igual. Nos casos onde a informação está disponível, 65% não conseguiram completar sua educação primária.
As chacinas ocorrem maciçamente à noite ou na madrugada (80%), cerca de metade delas entre sexta-feira e domingo, em bares ou na rua (60%, somados).

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