São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Concurso da Magistratura gera preocupações

WALTER CENEVIVA
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Até o fim deste ano estarei vivendo uma experiência nova, na qualidade de representante da Ordem dos Advogados do Brasil na Comissão Examinadora do próximo Concurso da Magistratura de São Paulo, presidida pelo desembargador João Sabino Neto. As inscrições foram abertas em março e a prova de seleção será realizada em maio.
No começo dos trabalhos descobri uma coincidência. A Comissão é também integrada pelo desembargador Luis de Macedo, que tem registro de jornalista profissional e que já escreveu estas "Letras Jurídicas", antes de ingressar na magistratura, nas férias de Teófilo Cavalcanti. Ele examinará as áreas de direito civil e processo civil. O desembargador Celso Luiz Limongi examinará direito penal e processo penal.
Senti-me à vontade para aceitar a indicação, em primeiro lugar porque me permite conferir o nível geral dos candidatos e as agruras de sua luta pela classificação.
Em segundo lugar porque me cabem duas matérias ligadas ao meu dia-a-dia. Será o Direito Constitucional, predominante nesta coluna, tratada em em meu livro "Direito Constitucional Brasileiro", pela Saraiva. Será, ainda, o Direito Comercial, de intensa prática profissional, em que participei de obra coletiva, na Associação dos Advogados de São Paulo, sobre as sociedades anônimas e em que tenho outro livro ("Publicidade e direito do consumidor") pela Revista dos Tribunais.
Os concursos da magistratura vivem, em São Paulo, o drama de não preencherem as vagas abertas, embora o número dos candidatos seja sempre grande. No ano passado participaram 3.307 e foram aprovados 41. A constatação conduz à certeza de que o ensino jurídico prossegue defeituoso. Não garante boa qualidade na média dos formandos, embora a USP e a PUC façam mais da metade dos concorrentes habilitados.
Oriunda de um fraco ensino no primeiro e no segundo graus, boa parte dos candidatos não têm o domínio da palavra, escrita ou oral, quando se sabe que a palavra é a ferramenta básica de quem pretenda sustentar questões de direito.
Digna de nota é a juventude dos concorrentes. No último concurso, menos de 20% tinha mais de 30 anos. Quase 70% eram solteiros. Tenho ouvido queixas sobre o relacionamento com os jovens magistrados, que se tornam agressivos e desconfiados quando postos em contato com advogados veteranos, conhecedores de sua arte, com experiência infinitamente superior à dos julgadores, ainda que estes tenham elevado grau cultural, o que nem sempre é o caso.
Aquele que se dispuser ao concurso tem de cursar a Escola Paulista da Magistratura, se passar pela prova de seleção na qual, em 1994, foram acolhidos 45 homens e 37 mulheres. Na Escola, o candidato ganha pequeno salário, dificilmente satisfatório para quem tenha de sustentar a família, o que gera uma certa elitização econômica dos disputantes. Todos nós, que vivemos os problemas judiciários, temos de nos preocupar com o papel que as escolas da magistratura devem representar na preparação e no aprimoramento dos juízes.
1995 vai permitir-me a reavaliação dos conceitos que tenho emitido sobre os problemas do Poder Judiciário em São Paulo, os quais são, de certo modo, um retrato ampliado do que acontece em todo o Brasil. Quase a metade de todos os processos judiciais em curso no país corre em nosso Estado. É outra causa de meu interesse pela novidade da experiência deste ano, que dividirei com o leitor sempre que possível.

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