São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Família é sempre mais importante

LINDA CHAVEZ
DO "USA TODAY"

Existe uma barreira invisível -mas intransponível- entre as mulheres e o jogo executivo. A despeito de seus méritos e realizações, ela impede que as profissionais cheguem aos altos escalões do mundo dos negócios.
A tese fascinante, quase totalmente errada, surgiu do "Relatório Sobre a Composição das Direções de Empresas" do Departamento do Trabalho dos EUA.
Ele conclui que estão sendo negadas para as mulheres promoções pelas quais elas são tão ávidas e para as quais são tão qualificadas quanto os homens.
O relatório mostra que só 5% dos gerentes de alto nível de 2.000 indústrias e empresas relacionadas pela revista "Fortune" (especializada em economia e negócios) são mulheres.
Destaca ainda um estudo segundo o qual os homens, dez anos depois de formados em administração na Universidade Stanford (EUA), têm oito vezes mais chances que as mulheres de chegar a cargos executivos.
O que o relatório não mostra é que as mulheres muitas vezes fazem escolhas diferentes das dos homens -que afetam profundamente suas carreiras, mas não constituem discriminação.
É heresia feminista dizer isso, mas a maioria das mulheres -incluindo as que trabalham fora e que exercem cargos de gerência média- põe a família sempre em primeiro lugar.
Chegar ao topo da hierarquia empresarial muitas vezes implica competição ferrenha em jornadas de 80 a 90 horas de trabalho por semana (de 13 a 15 horas, trabalhando seis dias por semana).
Significa também frequentes mudanças de residência e fanática devoção ao emprego acima de qualquer coisa. Poucas mulheres se dispõem a esse jogo.
Falo por experiência própria. Entre os que me conhecem, ninguém diria que tenho pouca ambição. Mas sempre a temperei com a relutância em sacrificar totalmente minha vida familiar.
Em 86, depois de perder a disputa por uma cadeira no Senado dos EUA, fui sondada por um funcionário da Casa Branca para assumir uma embaixada.
Com três filhos na escola e um marido com carreira em Washington (EUA), disse não -apesar de meu profundo interesse por política externa.
Ao longo dos anos, recebi propostas de "headhunters" (profissionais que descobrem executivos adequados para as empresas). Rejeitei todas. Exigiam mudança para outras regiões.
Hoje, mesmo cumprindo jornadas quase sempre extenuantes, trabalho em casa. Minha experiência não é isolada.
Em conversa com outras profissionais -todas também muito ambiciosas-, ouvi relatos de aspirações adiadas, de escolhas profissionais que colocaram a família antes do trabalho.
A simples decisão de ter filhos afeta drasticamente a carreira da mulher. A prova é um estudo sobre profissionais com mestrado em administração que deixaram o emprego para ter filhos.
Quando voltaram a trabalhar, ganhavam 17% menos que as mulheres de um grupo que não interrompeu a carreira.
O mesmo estudo descobriu que apenas 44% das mulheres do primeiro grupo chegaram aos cargos mais altos de gerência média, contra 60% das que permaneceram no emprego.

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