São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Estado de sítio é atalho para reformas

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ (BOLÍVIA)

O estado de sítio imposto pelo governo em todo o país na semana passada é um atalho que o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada tomou para tentar concluir as reformas que propôs ao país.
A prisão de 323 pessoas tem como objetivo acabar, sem longas negociações, com as resistências.
Sánchez era ministro do Planejamento há dez anos quando tirou a Bolívia do abismo de uma hiperinflação anual de 23.000%.
Quando venceu as eleições em 1993 a inflação conservava-se em 8% ao ano. Sánchez continua domando os preços mas não conseguiu reduzir a pobreza que mantém a Bolívia como segundo país mais pobre do hemisfério ocidental, segundo o Banco Mundial.
Os sindicatos e partidos de oposição agora temem que as novas reformas aumentem a pobreza.
Além de exigir aumentos de salário acima da inflação, os sindicatos ergueram-se contra o plano de privatização das seis maiores estatais da Bolívia, promovendo uma série de distúrbios no país -interrompidos com o estado de sítio.
O projeto de privatizações prevê a venda de 50% das ações das seis maiores empresas estatais do país para a iniciativa privada e investidores internacionais.
A venda arrecadaria US$ 3,5 bilhões, que seriam aplicados nas próprias companhias.
Em uma segunda fase, o capital restante seria distribuído gratuitamente a 3,8 milhões de bolivianos. O governo depositaria as ações em contas abertas para a população.
Os sindicatos não confiam na concretização dessa segunda fase, já que o plano se mostra ambicioso demais para um país que tem hoje menos de 350 mil contas bancárias (5% da população).
O temor é que as empresas passem a ser controladas pelo setor privado, que os sindicatos enfraqueçam -eles têm dezenas de representantes nas estatais- e que o restante da população acabe por não receber o prometido.
Com os sindicalistas presos e com maioria no Congresso, o presidente Sánchez de Lozada espera receber em maio as primeiras propostas de empresários para a venda das estatais.

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