São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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A viagem de FHC

A viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso aos Estados Unidos não rendeu maiores dividendos concretos. Nem seria mesmo realista esperar que rendesse. Afinal, não era essa sua intenção.
Para Fernando Henrique, a passagem por terras norte-americanas e os encontros lá mantidos tinham muito mais um caráter de relações públicas, uma ofensiva de marketing. E esse esforço, além de ser oportuno, parece ter sido relativamente bem-sucedido.
É evidente que manter boas relações, estabelecer canais de contato e facilitar futuras conversações, em se tratando da principal potência do planeta, é sempre positivo. Esse empenho torna-se no entanto particularmente crucial num momento em que os espíritos econômicos internacionais andam inquietos e em que se vive ainda a ressaca do temporal que derrubou o México e abalou as economias emergentes da América Latina.
Ademais, como informou esta Folha, a receptividade do governo norte-americano à visita, mesmo em meio à comoção causada pelo ataque terrorista em Oklahoma City, foi maior do que a simplesmente protocolar. É evidente que não se podem nutrir ilusões de que o Brasil vá ganhar tratamento preferencial dos Estados Unidos apenas por causa da troca de amabilidades. Aliás, o presidente Bill Clinton foi claro ao alertar para a atenção que dedica ao problema das patentes e deixou subentendido que eventuais sanções não estão descartadas. Mas o Brasil pode ter ganho algum tempo e alguma boa vontade.
As conversas acerca do instável estado dos mercados financeiros internacionais e mesmo sobre o combate ao tráfico de drogas, por mais protocolares que possam ter sido e mesmo que não cheguem a nenhuma conclusão específica, no mínimo passam a imagem de que o Brasil é atualmente um interlocutor que deve ser ouvido.
Do mesmo modo, os elogios à economia brasileira feitos pelo presidente norte-americano sem dúvida contribuem para o esforço de Fernando Henrique de vender a imagem de um Brasil diferente, tanto do México como daquele Brasil superinflacionário e refratário a reformas de pouco tempo atrás.
Esse mesmo esforço de relações públicas foi feito também com centenas de empresários que foram ouvir o mandatário brasileiro -fato que já é em si algo significativo. Afinal, representa uma demonstração de que pelo menos há interesse pela situação nacional e mesmo que não seja um discurso entusiasmado sobre as perspectivas da economia brasileira que vá seduzir o capital externo a retornar, qualquer grau de apaziguamento de ânimos, ou de atenuação de temores, já representa algum ganho.
De todo modo, o presidente Fernando Henrique volta-se agora novamente para o front interno e tem, a partir da próxima semana, a difícil missão de tentar convencer os brasileiros de que a imagem que buscou transmitir lá fora, de um país estabilizado e avançando rumo às reformas estruturais, é mais do que apenas propaganda para americano ver. E para isso, agora sim, serão necessárias ações, medidas e resultados muito concretos.

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