São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Truculência obrigatória;Tragicômico; Salário mínimo e o PMDB; Mau médico; Contra Giap; Retrato falado

Truculência obrigatória
"Até quando seremos obrigados a aguentar essa truculência de horário político obrigatório invadindo nossos lares? Estamos numa era de superavanço tecnológico, comunicando-nos globalmente, através da Internet, e em contrapartida recebemos uma imposição antipática em horário nobre de TV. Em São Paulo, nossos defensores da Assembléia Legislativa aprovaram a manutenção de suas aposentadorias especiais às custas de nossos bolsos. É uma petulância vergonhosa."
Arlindo Cordenunzzi (São Paulo, SP)

Tragicômico
"Às vezes penso que seria cômico se não fosse trágico o sentido que têm certas expressões de alguns articulistas da Folha, tal como esta do Gilberto Dimenstein (16/4): 'ambiente de cio fisiológico contamina o clima no Congresso'. O pior, caro Gilberto, é saber que nosso povo nesse 'nível de pobreza e deseducação' continuará por algum tempo refém das manobras despudoradas de tantos políticos brasileiros."
José Miguel de Oliveira, diretor do curso Propedêutico da Arquidiocese de São Paulo (São Paulo, SP)

Salário mínimo e o PMDB
"Em reportagem desse jornal (edição de 20/4, pág. 1-8) sobre a aprovação pelo Congresso Nacional do salário mínimo de R$ 100, aparece no título e texto que houve uma rebelião do PMDB para pressionar a negociação de cargos. Não é verdade. A resistência do PMDB, da qual fiz parte, veio do entendimento de que era absolutamente antiético, por um lado, aceitar a imposição do governo de só conceder o aumento do salário mínimo, vinculado a importantes modificações na Previdência, que subtrairiam direitos dos trabalhadores, e por outro lado, permitir que se discutisse, em caráter de urgência urgentíssima, e portanto, sem profundidade, questões que mereciam análise mais acurada, por envolver um pacto de gerações. O PMDB discutiu a questão e declarou oficialmente o seu voto, que foi por mim proferido em plenário e que diz: 'O PMDB, neste delicado momento nacional e objetivando, como sempre faz, o cidadão, particularmente o mais pobre, e entendendo que, por princípio, não somos favoráveis a discussão de questões vitais, como o salário mínimo, em conjunto com outras atinentes à Previdência, que devem ser resolvidas com a ponderação e o rigor necessário a reforma desse tipo e considerando que: 1) não desejamos pôr em risco o justo e absolutamente necessário aumento do salário mínimo, 2) por solicitação e atuação da bancada do PMDB e do seu líder, o governo aceitou uma mudança substancial, na questão das alíquotas, cuja emenda foi por nós encaminhada à Mesa e não onera os que recebem menos de cinco salários mínimos, favorecendo a grande massa de trabalhadores brasileiros, resolve votar contrariamente ao desmembramento, solicitando ao governo que evite de agora em diante, pois não terá nosso apoio, expedientes como esse, que criam conflitos éticos e dilemas desnecessários que não fazem parte de nossa tradição e que por momentos colocaram em risco direitos sagrados do trabalhador.' Pode ser que existam alguns deputados do PMDB interessados em participar do governo ao qual dão apoio, até para dividir responsabilidades mas, posso garantir que a grande maioria encontra-se em situação desconfortável, pois vivemos hoje um conflito entre as nossas tradições, lutas e conquistas no passado e as teses que nos vemos na contingência de defender, em função do apoio que se decidiu dar ao governo federal."
José Aristodemo Pinotti, deputado federal pelo PMDB-SP (Brasília, DF)

Nota da Redação - O PMDB participou do acordo fechado entre o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, e lideranças de partidos que apóiam o governo. Na quarta-feira, dia da votação do projeto no plenário da Câmara, os peemedebistas se reuniram por meia hora a portas fechadas. As informações sobre o descontentamento da bancada com relação à distribuição de cargos foram fornecidas à Folha por parlamentares que participaram da reunião.

Mau médico
"Na edição de 17/4, o professor Florestan Fernandes escreveu em sua coluna semanal artigo apoiando a iniciativa do dr. Silvano Raia acerca da construção do Instituto do Fígado e do Alcoolismo. Fez Florestan uma correta análise da gênese do quadro de saúde da população brasileira, dando, porém, equivocado destaque às doenças hepáticas -em meio a tantas outras opções-, propondo que ao tratamento do fígado seja dada prioridade estratégica. Agindo assim, o professor Florestan se portou como o mau médico que acerta só em parte o diagnóstico e erra quase que completamente no tratamento. Ao professor Florestan, experimentado observador da sociedade brasileira e parlamentar de igual calibre, não poderia ter faltado a compreensão de que o combate a esse quadro jamais terá sucesso através de megaempreendimentos que consumam boa parte do erário público em 'tratar as doenças'. Tudo é uma questão de decisão orçamentária, onde a sociedade deve opinar se investe maciçamente em prevenir doenças ou em socorrê-las, dado que as fontes de financiamento são comuns a ambas as opções. Por último, é lamentável que o médico Silvano Raia se aproveite do fato de ter tratado o paciente Florestan para aliciá-lo para uma causa particular. Igualmente lamentável é o fato do paciente Florestan ter concordado com essa estratégia antiética e mesquinha."
Adriano Diogo, vereador pelo PT (São Paulo, SP)

Contra Giap
"O colunista Antonio Callado, que muito admiro, se enganou ao defender Vo Nguyen Giap como um grande herói e um tático militar extraordinário. O equívoco é mais grave ainda por servir de estímulo às facções radicais que despontam no Brasil e que contribuem para o entrave geral da reforma constitucional e da sociedade. O que Giap fez foi possível apenas sob a forma autocrática de que seu governo se revestiu. Os norte-vietnamitas também assassinaram -como os americanos- milhares de pessoas no Vietnã para 'defesa' de sua causa, só que ao contrário dos americanos, eles estavam matando as pessoas que queriam 'libertar' do jugo imperialista."
Marcello de Albuquerque Maranhão (Belém, PA)

Retrato falado
"Sou o retrato falado da violência, a tradução do analfabetismo, o perfil da educação, a voz da ignorância, a síndrome da desordem, o câncer do Orçamento, o raio x da saúde, a penúria operando tua fome, do sul ao norte, sou teu plano de vida até a morte. Vote em mim, sou típico político brasileiro, burro e mercenário."
Círio de Oliveira Ferreira (São Paulo, SP)

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