São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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A trilogia do futuro

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Segundo a revista "Business Week" de dezembro passado, o nosso planeta será um mundo cor-de-rosa no ano 2010. O PIB mundial passará de US$ 26 trilhões para US$ 48 trilhões. O comércio internacional saltará de US$ 4 trilhões para quase US$ 17 trilhões. A inflação média cairá de 4,3% para 2,5% ao ano. O número de telefones sem fio passará de 34 milhões para 1,3 bilhão. Os 1.100 satélites atuais saltarão para 2.260. Os automóveis produzidos aumentarão de 28 milhões para 60 milhões por ano.
Esse mundo cor-de-rosa, porém, contrasta com o que se observa na distribuição de renda no mundo. Em 1960, os países que formavam o grupo dos 20% mais ricos, detinham 70% da renda mundial enquanto que os 20% mais pobres ficavam com apenas 2,4% -ou seja uma relação de 30 para 1. Trinta anos depois, a apropriação dos 20% mais ricos saltou para 80% enquanto que a dos 20% mais pobres despencou para 1,3% fazendo aquela relação subir para a espantosa diferença de 60 para 1!
No caso do Brasil, os dados publicados pela imprensa nesta semana mostram que, nos últimos cinco anos, o grupo dos brasileiros mais pobres na região metropolitana de São Paulo aumentou 42% enquanto que o dos mais ricos aumentou quase 6%. Ou seja, a distância entre eles aumentou, acompanhando o que acontece no resto do mundo.
Para demonstrar que a pobreza constitui um gravíssimo problema social no Brasil não é preciso muita teoria. E para sair disso não adianta recorrer a mágicas e pajelanças. A única saída possível chama-se trabalho. A resposta mais específica a esses problemas é crescimento econômico, emprego e educação.
Nos últimos dez anos o Brasil passou por várias quadras recessivas. No que tange à região metropolitana de São Paulo ocorreu aqui o mais perverso coquetel para alimentar a pobreza e a miséria. No mesmo momento em que os brasileiros de todas as partes aqui chegavam, os movimentos sindicais e ecológicos expulsavam as empresas da região deixando para trás uma legião de trabalhadores sem emprego.
A solução dos referidos problemas não pode ser importada. Os dados acima mostram que o panorama mundial é de um profundo agravamento na distribuição de renda. Por isso, precisamos encontrar uma solução com base nas nossas próprias forças e dentro do mais absoluto realismo. Criar empregos custa caro -cerca de US$ 30 mil por unidade. Não se pode pretender gerar oportunidades de trabalho se, em cima disso, adicionamos tantos outros obstáculos como é o caso da tributação exagerada, dos altos encargos sociais, da intransigência sindical e dos bloqueios extremados da ecologia -sem falar na monstruosa economia informal.
O Brasil tem tudo para estancar a evolução da degradação social atual. O lado mais demorado é o da educação mas, ainda assim, ele pode ser bastante acelerado com a ajuda das modernas tecnologias no campo da pedagogia. Crescimento, empregos e educação é a trilogia que resolve. Ou seja, só nos resta trabalhar mais se queremos nos aproximar do mundo cor-de-rosa antecipado pelos futurólogos que só levam em conta a produção vendida sem considerar quem compra.

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