São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Séculos de teatro

CLAUDIA GONÇALVES

A gente fala sobre a vida. São três mulheres: uma de 26 anos, uma de 52 e uma de 92. Isso já traz um conflito absurdo. O meu personagem, por exemplo, pensa determinadas coisas e está crente que vai pensar isso até morrer. Então, você fala de uma flor. Eu vou dizer: "Ai que fofa!". A Natália vai dizer: "Que bela flor". A Beatriz comenta: "Já, já vai morrer". (Risos)
Beatriz -É exatamente isso.
Marisa -A peça é inteligente e os assuntos são muito bem escritos. O texto traz o grande desafio de transformar uma conversa numa coisa animada e de não ficar canastrona quando há muitas emoções em jogo. Tem desafio dos dois lados: de levantar o que pode ser morno e de segurar o que pode ser exagerado.
-Na boca de três homens esse papo ficaria interessante?
Marisa -Seria diferente. Seria uma outra conversa.
Natália -O tipo de enfoque de vida do homem é diferente do da mulher. A "petite différence" está aí.
-Por que na trama o personagem da Beatriz exerce uma certa autoridade sobre os personagens da Marisa e da Natália?
Beatriz -Eu sou a dona da casa, a rica da história.
-Esse seu personagem não lembra um pouco a Odete Roithman, vilã da telenovela "Vale Tudo", de 1988?
Beatriz -Não. Pelo amor de Deus, não tem nada a ver. -Isso é um estigma em sua carreira?
Beatriz -Não. Não quero nem falar sobre isso. Não quero misturar. Eu adorei a outra, mas não tem nada a ver. Acabou.
-Quais as idades de vocês?
Beatriz -Reais? Gracinha... A minha é 293. -E a sua, Marisa?
Marisa -A minha está na base de 178. Eu não posso falar a minha se elas não falarem a delas. É um pacto que nós três fizemos. A gente não vai falar.
Beatriz -Isso é uma coisa chata, antipática da Folha. Escreva que eu tenho 298, a Marisa está com 75 e a Natália acho que está com uns 200. (Risos)
-Três mulheres juntas o tempo todo. Vocês brigam muito?
Beatriz -Não, não. A gente fica às vezes de mau humor. Mas a Natália é uma pessoa muito especial e correta. Uma grande atriz. E a Marisa é muito agradável, alegre, divertida e inteligente. Ela dá palpites muito bons.
-Beatriz, você estava afastada do palco?
Beatriz -Há uns três anos que eu não fazia teatro. Hoje mesmo me chamaram para fazer televisão. Há um mês também. Mas eu não faço as duas coisas juntas. É muito desgastante, não é prazeroso. Gosto de vir para o teatro mais cedo, me maquiar com calma. E tem outra: para fazer uma novela, eu jamais deixaria meu cabelo descolorido como está agora. Mas no teatro, tudo bem. É um sacrifício do tamanho de um bonde para mim, mas achei que a valia a pena. Porque eu gosto de aparentar que estou sempre com 25 anos

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