São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Séculos de teatro

CLAUDIA GONÇALVES

Beatriz Segall, 1,68 m, Natália Thimberg, 1,68 m, e Marisa Orth, 1,72 m, se juntaram para fofocar. Com idades que vão de "75" a "298" (elas não revelam a verdade), as atrizes estão na peça "Três Mulheres Altas", de Edward Albee, em cartaz no teatro paulistano A Hebraica. No palco, discutem vida, felicidade, dinheiro e, óbvio, homens -como só três mulheres sabem fazer. Mas garantem passar longe da futilidade. "Não é curso de corte e costura", diz Marisa Orth

-O título da peça é "Três Mulheres Altas". A altura teve alguma influência na escolha do elenco? Beatriz Segall -Não, não teve a menor importância. -O texto expõe a relação que o autor, Edward Albee, tinha com sua mãe adotiva, que o expulsou de casa por ele ser homossexual. Isso não traz muita amargura para a peça? Beatriz -O texto tem humor, cinismo, mas tem também amargura, evidentemente. Porque ninguém chega aos 92 anos sem ter alguma amargura. A peça não tem uma história propriamente dita. O interesse está em ouvir essas três mulheres juntas conversando dentro de um quarto e dizendo todas as verdades que normalmente você não diz. -Esses diálogos giram em torno de quê? Beatriz -Elas discutem a vida, os homens, o dinheiro, a felicidade. Sobretudo a Marisa Orth, cujo personagem tem a vida pela frente. Agora, a Marisa vai falar. -O que mais a atraiu na peça, Marisa? Marisa Orth -Eu... Beatriz -Bom, evidentemente trabalhar com a Natália Thimberg e com a Beatriz Segall. (Risos) -Das três, você é a que tem a veia mais cômica, não? Marisa -Elas (Beatriz e Natália) também têm um grande senso de humor. Mas escondem. A questão é que, quando eu me formei, a comédia tinha virado chique. No tempo delas não era. Em teatro eu fiz mais peças, vamos dizer sérias, do que comédias. Também porque são muito raros os textos que são tipicamente comédias ou tipicamente dramas. Essa peça tem momentos engraçados e que precisam de timing cômico. Natália Thimberg -A peça tem horas de grande humor. -Qual foi a maior dificuldade na montagem? Beatriz -Eu acho que tudo foi difícil. Uma peça assim exige muito sentimento. Dá para ficar sem dormir, dá para chorar, dá para ficar aflita. Marisa -Dá para pensar na vida. Beatriz -Dá para sair daqui e brigar com as pessoas, porque você fica tomada pela peça. Mexe muito com a gente, faz você buscar suas memórias afetivas. E por mais equilibrado que seja um ator, é impossível que ele não se abale. -Vocês acham que os assuntos abordados pelo autor são melhor discutidos por mulheres? Beatriz -Sim. É fofoca de mulher. Marisa -Não sei. Natália -Eu acho que tem a ver com o mundo feminino, sim. Mas o texto é tão interessante que atinge o universal. Marisa -Na minha opinião é raro encontrar três homens que conversem tão bem quanto três mulheres. Mulher é boa de conversar. Isso é o feminino: as observações astutas. A peça tem temas que interessam a todos, não é um curso de corte e costura. Não é culinária. Me dá medo que as pessoas pensem isso.

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