São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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O 1º sucesso

COSETTE ALVES

Quando estava para completar 17 anos, Celulari havia terminado o segundo grau. Pretendia fazer a escola de teatro aqui em São Paulo. Antes, teve de convencer o pai -pessoa muito simples, que tinha só o primário, órfão desde os 7 anos.
"Ele queria que eu fizesse odontologia, porque temos uma ótima faculdade em Bauru. Eu era um bom aluno, frequentava as aulas, mas já fugia para a biblioteca, porque lá em casa não tínhamos o hábito da leitura. Minha casa não tinha artistas. Era um coisa nova, que assustava, e, no interior, ligada a uma idéia de trabalho marginal. Eu estava desesperado e tinha que convencer o meu pai. Aí escrevi um texto horrível de meia hora. Um monólogo passado no dia de Natal sobre um mendigo, doente, com frio, com fome. As músicas eram dos filmes de Charles Chaplin. Ele tinha visões de comida, tinha vontades.
Escrevi para meu pai. Era minha vontade de ser ator, meus sonhos projetados no personagem. Eu mesmo dirigi, iluminei e representei. Foi meu primeiro e maior sucesso, uma apresentação que mudou minha vida. As velhinhas todas choraram, meu pai, que era muito severo, também. Depois, emocionado falou: 'você tem jeito para isso'. Bauru até hoje não tem teatro, é uma vergonha. Mas me orgulho de outras coisas de minha cidade."

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