São Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Programas ruins não dão vez ao novo

SÉRGIO DÁVILA
DA REVISTA DA FOLHA

Nas últimas semanas, dois pilotos de programas bastante bons apareceram aqui na redação. Ambos são feitos por gente, de idade variada, que nunca trabalhou na TV.
Um dá receitas gastronômicas rápidas e bem-humoradas para adolescentes, outro trata de música nova, um "Fábrica do Som" atualizado. Ambos foram mostrados a emissoras, que os recusaram.
Pois bem.
Nas últimas semanas, a Manchete vem exibindo diariamente, às 15h45, o programa de entrevistas "Papo Sério", com Lolita Rodrigues.
Lolita já foi atriz engraçada (como em "Sassaricando") e péssima apresentadora/entrevistadora (no fenecido "Almoço com as Estrelas").
Tome-se seu programa de segunda passada como exemplo. Ela recebe num cenário que se pode chamar de "eclético" -vai da samambaia ao tapete persa sem piscar.
O tema é "um papo (suspiro) mais sério (suspiro) que os outros (pausa dramática): a eutanásia", segundo Lolita. Na sabatina, um psicólogo tetraplégico que quer o direito de se matar ou de ser morto.
Entre os debatedores, solam um psiquiatra ("eu teria que fazer algo para ele 'obitar"') e a atriz Marli Marley ("Deus põe e Deus dispõe").
O assunto é sempre interessante, se discutido com um mínimo de inteligência. Não foi o caso (não havia a menor hipótese de ser o caso).
No meio da discussão histérica, Lolita pede licença e passa a um outro ambiente. Uma mocinha a espera. "A eutanásia é um assunto delicado, né?", diz a garota. "Mas eu vim aqui para anunciar a nova máscara de beleza japonesa para a pele"!!!
Isso se repete por três vezes. Sempre com as garotas fazendo um ligeiro comentário sobre a eutanásia e (na mesma frase) vendendo produtos que vão de tônico capilar ao estimulante Ecstasy!
Conclusão possível: "Papo Sério" não acrescenta rigorosamente nada à programação de qualquer emissora ou ao conhecimento de qualquer espectador; faria melhor figura sob o nome "Papo Furado".
Idéias novas, boas e viáveis começam a pulular ao redor das grandes emissoras.
Há toda uma geração -e o critério aqui não é idade- querendo entrar na TV. Mas os autores de "Papo Sério" e outros do gênero não deixam.

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