São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maciel vence e FHC mantém os cargos políticos da Caixa

VIVALDO DE SOUZA; MARTA SALOMON E LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso cedeu à pressão dos aliados no Congresso e do vice Marco Maciel e decidiu manter as 31 superintendências estaduais da CEF (Caixa Econômica Federal).
FHC chegou a anunciar, no início da noite, através do porta-voz Sérgio Amaral, que a reforma administrativa da CEF continuaria. Após reunião com os líderes do governo no Palácio do Planalto, comunicou o recuo e manteve os cargos pedidos pelos políticos.
O projeto do governo muda. A criação de seis coordenadorias será mantida. Mas elas deixam de ter caráter regional e passam a ser itinerantes. Ou seja, os seis coordenadores não ficarão fixos em uma determinada região, como previsto inicialmente.
As 31 superintendências, que seriam extintas no prazo de seis meses, continuam existindo. Elas manterão o atual poder político. Caberá às coordenadorias itinerantes apenas o gerenciamento comercial da instituição.
A pressão dos congressistas acabou aumentando o número de cargos na CEF, em vez de reduzir, como constava do plano traçado por Sérgio Cutolo.
Na prática, as novas coordenadorias itinerantes representam um poder paralelo dentro da instituição para tentar atenuar a influência política.
A liderança do governo do Congresso insistiu em manter as superintendências da CEF. "Isto é inegociável", afirmou o vice-líder Benito Gama (PFL-BA), a caminho do Planalto, antes de tomar conhecimento oficial do recuo do governo.
O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), disse que a reclamação contra a reforma na CEF é generalizada e inclui até governadores de Estados.
Inocêncio Oliveira (PE), líder do PFL na Câmara, disse ontem que é importante manter a atual estrutura da CEF. Segundo ele, as superintendências regionais "têm um poder político enorme".
"Eu não tenho um cargo destes. Mas, quem tem, tem um instrumento político forte nas mãos. O superintendente aprova empréstimos, projetos, libera verbas", afirmou Oliveira.
A reforma proposta por Cutolo resultaria na extinção de 31 superintendências estaduais da CEF, cargos políticos muito disputados pelos parlamentares. As superintendências seriam substituídas pelas seis coordenadorias regionais.
A discussão sobre o tema começou na semana passada. Pressionado, o vice-presidente Marco Maciel, então no exercício da presidência, ordenou a Sérgio Cutolo a suspensão da reforma.
Com a ordem de Maciel, foram suspensas as posses dos novos coordenadores regionais da Caixa. Mas Cutolo manteve a disposição de levar adiante o projeto. Retomaria as nomeações nesta semana. Esperava contar com o apoio de FHC e do ministro da Fazenda, Pedro Malan.
O recuo do governo foi acertado ontem num almoço que reuniu o presidente da República, Sérgio Cutolo, Paulo César Ximenes (presidente do Banco do Brasil) e Pérsio Arida (presidente do Banco Central).
Maciel
Maciel foi entrevistado ontem no programa "Marília Gabi Gabriela", da CNT, em São Paulo.
O vice disse desconhecer a decisão final do presidente sobre a CEF, mas afirmou que não tinha tomado qualquer decisão sobre o programa da CEF. Afirmou ter pedido a Cutolo que o suspendesse apenas até o retorno do presidente ao Brasil.
Ocorre que o programa de reestruturação da CEF já contava com a aprovação do presidente.
Sobre a manutenção das superintendências, Maciel disse: "Não será isso que vai aumentar o fisiologismo no Brasil".

(Vivaldo de Sousa, Marta Salomon e Lucio Vaz)
Colaborou a Reportagem Local

Texto Anterior: Folha promove amanhã debate sobre seguro nas licitações públicas
Próximo Texto: FHC nomeia seu primo e sócios de Pelé para o Ministério dos Esportes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.