São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
Texto Anterior | Índice

Sociólogo da USP pesquisa tipos de juízos morais sobre sexualidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Os julgamentos morais relativos à sexualidade se desenvolvem e podem ser analisados segundo os mesmos padrões da moralidade em geral? A resposta a esta questão, a partir das teorias desenvolvidas pelo psicólogo norte-americano Lawrence Kohlberg (1927-1987), foi o objeto da dissertação de mestrado em sociologia, na USP, do sociólogo e diretor de operações do Datafolha Gustavo Venturi Jr. O trabalho teve nota dez, com louvor e distinção.
Segundo Kohlberg, os indivíduos têm a capacidade potencial de emitir juízos universais (de validade geral, em resumo), depois de um consenso livremente debatido sobre alguns problemas morais básicos (como o respeito à vida, por exemplo). Esta capacidade potencial é desenvolvida na interação com o meio, através de estágios, e pode ser construída (como a capacidade de conhecer).
Em seu trabalho, Venturi procurou analisar o processo pelo qual os indivíduos adquirem e internalizam princípios orientadores da julgamentos morais relativos à sexualidade. Concluiu que este processo e o da moralidade em geral têm desenvolvimentos equivalentes.
O sociólogo também tentou demonstrar se os conceitos kohlberguianos de tipos morais são adequados para analisar e qualificar julgamentos morais sobre questões relativas ao sexo.
Para tanto, Venturi desenvolveu uma pesquisa de campo. Entrevistou 144 pessoas em São Paulo, segundo as categorias sexo, trabalhadores braçais e universitários, e grupos de idade de 18 a 23 anos e 30 a 35 anos. Foram aplicados questionários sobre histórico pessoal e apresentados "dilemas morais" aos entrevistados.
Os dois tipos de Kohlberg são o autônomo e o heterônomo. Os primeiros desenvolvem "raciocínios movidos por questões de consciência livres de coerções externas e cientes dos convencionalismos (arbitrários e tradicionais) das normas sociais". Os heterônomos, ao inverso, pensam estereotipada e convencionalmente.
Os raciocínios autônomos são caracterizados pelo desenvolvimento de proposições do tipo "deve ser" (o que é definido como correto, livremente debatido e levando-se em consideração o outro), além de poderem ser modificados com o aprendizado.
Na sua pesquisa, Venturi observou que a influência do meio social é importante para a distinção dos tipos morais. Nos dilemas apresentados sobre monogamia (série de questões sobre a liberdade do comportamentos do par e de si próprio), a incidência de "autônomos" entre universitários homens foi de 92%, contra 39% entre os trabalhadores "braçais" e de 88% entre mulheres universitárias.
Segundo o autor, isso se deve, "presumivelmente", ao fato de que parte das mulheres e braçais, "mais presos a contextos heteronomizantes e com menos oportunidade de acesso aos meios materiais e simbólicos propulsores do desenvolvimento individual, precisariam de mais tempo para atingir a autonomia moral".

Texto Anterior: Professores da rede estadual fazem nova assembléia hoje na capital
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.