São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Objetivo é fazer a economia crescer menos

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal tem como objetivo, neste momento, produzir uma suave, porém firme desaceleração da economia.
A meta é garantir um ritmo bem mais lento para 1996, já que em 1995 não há como segurar: o país vai crescer mais do que desejaria a equipe econômica.
Segundo dados do IBGE, no primeiro trimestre deste ano o Brasil cresceu a um ritmo de 9% ao ano. Para o governo, trata-se de uma velocidade insustentável.
O crescimento da economia é considerado excessivo quando o consumo cresce a uma velocidade maior do que a produção local.
Isso tem duas consequências negativas: dá oportunidade para a alta de preços e prejudica o comércio externo.
O problema do comércio externo ocorre na importação e na exportação.
Com o consumo interno aquecido, aumentam as importações para suprir a falta da produção local. E caem também as exportações, porque é mais fácil e mais rentável vender aqui mesmo.
Como o governo não pode permitir nem alta da inflação, nem déficits no comércio externo, precisa reduzir o nível de consumo e de crescimento internos.
Esse é um objetivo de curto e médio prazo. Na avaliação do Banco Central, o país não vai crescer neste ano no mesmo ritmo de 9% verificado no primeiro trimestre.
Mas como o embalo inicial é forte, o governo não acredita que a redução seja expressiva. Ou seja, na avaliação do BC, o crescimento deste ano será fatalmente superior a 5%.
Assim, o objetivo do governo é conseguir que, nos meses finais deste ano, a economia esteja crescendo a um ritmo em torno dos 3%, para garantir um 1996 com menos pressões.
Pela avaliação do BC, este ano ainda é possível conseguir uma inflação anual na faixa dos 25% e superávit no comércio externo, mesmo com o crescimento acima de 5%.
Mas é essencial que essa velocidade de crescimento seja decrescente. Ou as contas estouram em 1996.
A estratégia básica é reduzir o crédito disponível na economia, sem elevar mais a taxa de juros paga pelos títulos do governo e sem fazer nova desvalorização do real.
O outro lado desse programa está nas reformas estruturais da economia, que dependem das emendas constitucionais a serem votadas no Congresso Nacional.
Essas emendas permitirão o equilíbrio das contas públicas e estabelecerão condições para um avanço nas privatizações.
Em resumo, o que se faz agora é um quebra-galho enquanto se espera pelas reformas definitivas.
Com elas implantadas e com novos investimentos aumentando a produção local, não haverá necessidade de restrições ao crescimento. Mas isso se o plano de estabilização chegar vivo em 1996.

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