São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Corman une Poe e hamburger

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Roger Corman, tenhamos isso claro, é um comerciante de imagens. Faz cinema para ganhar dinheiro. E tem pavor de perder dinheiro. Ganhou muito com a série dedicada a Edgar Allan Poe, da qual faz parte este "Muralhas do Pavor" (Manchete, 21h45).
A inteligência de Corman consiste em ter desenvolvido uma arte do possível. Se desse, fazia o melhor. O melhor, no caso de suas adaptações de Poe, é, de longe, "A Orgia da Morte" (The Masque of the Red Death), de 1965.
Se não desse para tanto, chegava ao necessário para agradar ao público dos drive-ins (onde suas produções eram projetadas originalmente). "Muralhas do Pavor" está nesse caso: Poe com hamburger.
Não significa que seja um mau filme, mas que Poe e os três textos originais ("Morella", "O Gato Preto" e "The Facts in the Case of Mr. Valdemar") foram bem remanejados pelos roteiros de Richard Matheson.
É mais Corman do que Poe. É mais Vincent Price, também (o ator está nos três episódios). Isso não chega a ser um incômodo. É uma constatação permitida pelo filme, e que leva a outra.
A saber: com sua conhecida ganância, com sua falta de escrúpulo (no bom sentido, o de dúvida de consciência, o mesmo que tirou Rubens Ricupero de cena, há alguns meses) em transformar um texto clássico às necessidades de uma platéia popular, Corman toca uma das essências do cinema.
É possível não ver em "Muralhas do Pavor" uma obra-prima de todos os tempos. É necessário ver, no entanto, que ao vulgarizar três contos sublimes -sobretudo "Morella"- Corman encontra essa mistura entre arte e espetáculo de feira que caracteriza boa parte de seus filmes: o que tem de horror ingênuo, "Muralhas" também tem de inocência calculada. Seu encanto vem, em boa parte, desse paradoxo.
(IA)

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