São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Jatene libera obras de Bispo a Veneza

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Fundação Bienal de São Paulo assinou ontem um convênio com o Ministério da Saúde para a cessão de 140 obras do artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário (1911-1989).
Bispo e o artista paulistano Nuno Ramos, 35, vão representar o Brasil na próxima Bienal de Veneza, a começar dia 6 de junho.
O acordo foi firmado ontem às 10h45 no prédio da Bienal pelo ministro da Saúde, Adib Jatene, e o presidente da fundação, Edemar Cid Ferreira.
A obra de Bispo pertence ao Ministério da Saúde. Nascido em Japaratuba, era doente mental (esquizofrênico paranóide) e ficou internado em hospitais psiquiátricos do estado durante 51 anos.
Suas cerca de 600 obras estão depositadas na Colônia Juliano Moreira, no bairro de Jacarepaguá, no Rio. Bispo esteve internado ali de 1964 até a morte. Pertencem à entidade, que as mantém em situação precária.
Jatene disse que a Bienal tem um papel importante no restauro das obras de Bispo: "Como não são peças preparadas por um artista plástico não-convencional, elas necessitam de cuidados. A Bienal tem tecnologia para restaurá-las".
Segundo Cid Ferreira, as peças já estão sendo encaminhadas para o trabalho de limpeza e restauração no ateliê de Cláudia Nunes, em Petrópolis (RJ).
O custo da operação, segundo a Bienal, é de R$ 20.000. O seguro é de US$ 300.000. Deverão estar prontas para embarcar à Itália, em dez caixas, no fim de maio.
"A dificuldade se deve ao fato de Bispo ter trabalhado com materiais perecíveis", diz Cid Ferreira.
Bispo bordava em lençóis e panos, usava madeira sem tratamento e colava materiais de todo tipo em painéis. "Sua produção foi escolhida por questionar o suporte convencional das artes", define o presidente da fundação.
A escolha partiu do crítico Nelson Aguilar, curador do pavilhão brasileiro em Veneza, que considera Bispo um "grande artista do povo". O abandono do suporte (sobretudo a tela) o levou a eleger Nuno Ramos. Este vai receber R$ 25.000 para criar a instalação "Craca", uma bola de alumínio de 5 por 2,5 metros que pesa 2,5 toneladas e representa um meteoro em tamanho natural.
Cid Ferreira afirma que a peça custa o dobro: "'Os custos complementares estão sendo cobertos pela iniciativa privada". Segundo ele, Nuno Ramos já está na metade da elaboração.
A Bienal de Veneza começa dia 6 de junho. Celebra seu centenário e tem como tema identidade e alteridade na arte contemporânea. O curador do evento, o francês Jean Clair, prepara uma retrospectiva da arte moderna no palácio Grassi.
A Bienal de São Paulo é encarregada de organizar os eventos de arte brasileira no exterior, por acordo firmado em 1994 com o Ministério das Relações Exteriores. Pela combinação, ela custeia a reforma do pavilhão brasileiro de Veneza, orçada em US$ 36.000.
O prédio, com 100 metros quadrados, abrigará as obras de Bispo. A instalação de Nuno Ramos será exposta do lado de fora.
Entre as peças de Bispo estão o "Manto da Apresentação", criado por ele para se apresentar a Deus, quatro estandartes bordados em lençóis de hospital, 40 faixas de "misses" e oito "assemblages" com materiais diversos.

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