São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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'Bomba de Estrelas' tem elenco de convidados

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Apesar de não se inscrever entre os melhores trabalhos de Jorge Mautner, "Bomba de Estrelas" é bastante representativo da relação de amor e ódio que o artista mantém com o rótulo de "maldito".
Fruto da tentativa da Warner em lançar Mautner no grande mercado, o disco tem como convidados artistas de sucesso na época.
Cantam com Mautner Gilberto Gil, Caetano Veloso, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Robertinho do Recife, Zé Ramalho e Amelinha.
Mas, se namorava com o sucesso das estrelas da MPB de 1981, Mautner não abandonava suas características de 'maldito'.
Letras algo ousadas, displicência na gravação, a voz mais desafinada que nunca e o violino estridente interferindo nas canções ajudaram a manter mais uma vez o público afastado.
O fenômeno ameaça repetir-se agora. Confiando no apelo dos nomes de Caetano e Gil para atrair vendas, a Warner ignora "Árvore da Vida" (talvez o melhor disco de Mautner) e opta por um trabalho confuso, que não introduz bem sua obra.
O vácuo é ocupado pela Rock Company, que recupera dois grandes discos de Mautner.
"Jorge Mautner", de 1974, produzido por Gil, traz "Maracatu Atômico", um dos três clássicos (as outras são "O Vampiro" e "Lágrimas Negras") que Mautner inscreveu na história da MPB.
("Maracatu Atômico" é também faixa-bônus da reedição de "Bomba de Estrelas", em excelente regravação retirada sorrateiramente pela Warner de "Árvore da Vida".)
"1001 Noites de Bagdá" (1976), o outro relançamento da Rock Company, é o grande evento do pacote.
Nele, Mautner apresenta melodias particularmente inspiradas e emociona tocando ao violino um baião no melhor estilo Luiz Gonzaga ("O Som do meu Violino").
Juntos, os relançamentos dos "malditos" compõem um painel que explica muito da história da MPB nas últimas décadas.
Em comum, eles têm os fatos de ser (direta ou indiretamente) egressos do movimento tropicalista do final dos anos 60 e de fugir (por medo, inabilidade ou convicção) dos fervores mercadológicos do ex-chefe Caetano Veloso.
Pagam o preço de tangenciar a inacessibilidade e o anacronismo, fiéis ainda às antigas convicções. Mas, universais, não deixam jamais de ser interessantes.

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