São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Artistas têm fama de "difíceis e exigentes"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Os malditos são complicados, ainda têm a cabeça voltada para os anos 70", diz o dono de um selo independente, que prefere não se identificar. "Eles são malditos porque são difíceis, quase impossíveis de lidar", afirma outro.
"Eles parecem cultivar o rótulo de 'malditos', talvez até por medo de voltar a gravar", afirma o primeiro.
São explicações encontradas por alguns para o rótulo que persegue há mais de 20 anos artistas admirados pela crítica, mas com pouco acesso ao grande público.
Ao contrário das grandes gravadoras, que simplesmente rejeitam seus projetos por considerá-los "pouco comerciais", os independentes afirmam ter tentado, por várias vezes, gravar novos trabalhos dos "malditos".
"É mentira. Ninguém me procurou esses anos todos", diz Jards Macalé, sem gravar desde 1987. "Por mim, já entro no estúdio com tudo pronto e gravo em uma semana. Odeio estúdio", afirma.
"Não sou difícil", diz Jorge Mautner. "Faço show com dente arrancado e febre, sou um vietcong".
"Muitas vezes os independentes vêm com propostas indecorosas, do tipo 'pegar ou largar"', diz Walter Franco. "Já as grandes gravadoras praticam censura estética, só querem discos comerciais".
Ainda que com restrições, Franco dá preferência às gravadoras maiores. "Meu trabalho atual busca conciliar as necessidades do mercado. Não pretendo permanecer à margem, como se fosse um sacrifício", diz.
Ele não deixa de admitir sua parcela de culpa: "Sou responsável também pelas coisas ruins que me aconteceram. Digamos que 50% da culpa é minha".
Polêmicas à parte, os "malditos" têm, como sempre, novos projetos.
Walmir Zuzzi, da Rock Company, mantém contato com Macalé, Mautner e Franco, sonhando gravar seus novos discos.
"Fecho contrato do jeito que eles quiserem", diz Zuzzi, referindo-se à fama de exigentes dos "malditos".
Macalé promete para o segundo semestre três novos trabalhos pela Rock Company. Diz que vai gravar um disco de trabalhos inéditos, outro interpretando Antônio Maria e um de sua mãe, Lygia Anet.
"João Gilberto diz que minha mãe é uma das mais belas escolas de voz feminina da MPB", diz Macalé.
Mautner pensa também em novo disco, mas admite preferir esperar a repercussão dos relançamentos da Warner. "Este projeto vai dar mídia", diz.
Franco, sem gravar há onze anos, diz ter propostas de várias gravadoras.
"Se não der certo, gravo por uma independente mesmo. Não quero ser um ET, que aparece de dez em dez anos para ser redescoberto 20 anos depois", diz.
(PAS)

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