São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 1995
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Dúvidas persistem

As medidas anunciadas ontem pelo Banco Central deixam dúvidas quanto à sua eficácia para controlar a demanda. O BC decidiu elevar o custo de captação de recursos pelos bancos privados. Se captar fica mais caro, a tendência será tornarem-se ainda mais caros os empréstimos. O governo espera que o custo financeiro iniba o consumo.
Um aspecto central da iniciativa é tentar encarecer o crédito sem elevar os juros, que incidem sobre os títulos da dívida pública. No passado, experiências de conter o crescimento com juros mais altos elevaram o déficit público e, portanto, apenas substituíram uma fonte de inflação, demanda aquecida, por outra, desequilíbrio fiscal.
Resta saber se a sinalização de ontem será suficiente para evitar que um eventual crescimento excessivo acabe traduzido em mais inflação e excesso de importações. Os que duvidam disso alertam para o fato de que nos últimos meses ocorreu uma expansão vigorosa da economia, apesar de o custo do dinheiro já ser muito elevado.
Há três razões básicas para um eventual insucesso das medidas de ontem. A mais importante é o fato de que a inflação deixou de corroer salários, especialmente os mais baixos. Assim, depois do real, subiu o patamar de consumo, independentemente do custo do dinheiro.
A segunda razão é de ordem técnica. Ao mesmo tempo em que encarece a captação de recursos dos bancos privados, o BC vem facilitando a vida de bancos estaduais. Há duas semanas, relaxou regras de recolhimento compulsório de instituições como Banespa e Banerj.
Finalmente, é preciso alertar para o fato de que o Planalto não atua convincentemente na redução de suas despesas. De pouco vale o governo exigir disciplina dos outros quando ele mesmo não a mantém.
As medidas têm um caráter limitado. A inflação, porém, tem dado sinais preocupantes. Se não houver uma reversão dessa tendência, a elevação dos juros nominais e mesmo reais poderá tornar-se inevitável. Nesse caso, o novo compulsório terá sido mais um remendo na longa série de expedientes provisórios que tem caracterizado a condução da economia brasileira.

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