São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
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A aviação e a insegurança nacional

LUÍS NASSIF
A AVIAÇÃO E A INSEGURANÇA NACIONAL

Varig, viagem para Foz do Iguaçu, a trabalho. Às 21 horas, avião retido no aeroporto de Curitiba por problemas com cerração. Mesmo ficando a maior parte do ano fechado, não existe um só sistema para prevenir adiamentos de vôos no aeroporto. Os passageiros são obrigados a aguardar horas, submetidos a uma maratona de hotéis, sem nenhum planejamento.
São avisados de que seu avião só levantará vôo depois do meio-dia seguinte. Ninguém lhes explica porque aguardar 12 horas, se o avião permanece em solo. No dia seguinte, o vôo é antecipado para as 11 horas depois que passageiros mais exaltados cobrem o balcão de murros.
Rio-Sul, viagem para Maringá, a trabalho. O vôo está marcado para as 15h30. Às 15 horas, informam no balcão do aeroporto de Congonhas que, por problemas técnicos, só levantará vôo às 18 horas. Cinco minutos depois, na sala Dinners, informa-se que o vôo será às 18h30. Cinco minutos depois, de volta ao balcão da empresa, informam que será às 19h30. Mais cinco minutos e informam que foi cancelado, mas os passageiros poderão pegar outro vôo, com escala em Londrina. Motivo quase certo do jogo: cancelamento de vôo, pura e simplesmente, por insuficiência de passageiros.
Vasp, vôo de Miami, a trabalho. Bagagem extraviada, e só entregue dois dias depois no destino. Caos no desembarque, com bagagens de vários vôos sendo desembarcadas na mesma esteira, enquanto outras três esteiras permanecem vazias.
Varig, vôo de Las Vegas, a trabalho. Quinze bagagens colocadas por engano em outro vôo que fazia escala em Porto Alegre. Os passageiros só são informados uma hora depois, após alguns deles ameaçarem quebrar a sala de desembarque do aeroporto de Cumbica.
Qualquer vôo internacional em Cumbica. Demora média de 30 minutos para desembarque da bagagem, 60 a 70% de possibilidade de bagagem extraviada, esteiras vazias anunciando o vôo e bagagens sendo desembarcadas em outras esteiras, acotovelando-se com outros vôos.
TAM, Brasília. Serviço perfeito. Preço 20% superior ao da concorrência.
TAM, Ribeirão Preto. Serviço perfeito. Preço infinitamente maior, porque não há concorrência.
Segurança nacional
Este é o retrato da aviação comercial brasileira, a partir da experiência restrita do colunista no último ano. E nem se tocou no ponto mais grave do problema: a profunda incompetência com que os aeroportos enfrentaram o aumento das importações.
Assim como o microcomputador, aviação é um meio, um insumo relevante na composição de custos e na definição do nível de competitividade da economia.
Mesmo assim, sabe-se lá por que interesses, virou fim. A ineficiência das empresas do setor e da administração dos aeroportos afeta a economia como um todo, impede a demarragem da indústria do turismo e compromete a competitividade do país.
Ao comprometer a competitividade do país, os bravos brigadeiros que controlam o Departamento de Aviação Civil (que regulamenta o setor) e a Infraero (que administra os aeroportos) estão jogando contra a segurança nacional, em nome justamente da segurança nacional. Segurança de quem, caras-pálidas?
Empresas ineficientes têm a tarifa que necessitam para equilibrar suas contas. Empresas eficientes têm espaço para cobrar o que quiserem. Em qualquer ambiente competitivo, a eficiência das empresas reverte em redução nos preços das tarifas. No Brasil, bom atendimento é material tão raro que é vendido como artigo de luxo. E não se presta uma satisfação ao consumidor, não há compromisso com uma meta explícita de melhoria de qualidade, não se define um cronograma de redução de tarifas.
Não se pode postergar mais essa discussão. A aviação civil é importante demais para o país para continuar em mãos tão pouco comprometidas com a eficiência.

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