São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Computadores mais rápidos vão acelerar revolução da informática

BILL GATES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pergunta (Stan Loosley, Oregon, EUA): Achei muito instigante quando você escreveu que usa um portátil 486 e tem em casa uma conexão telefônica de alta velocidade ISDN (sigla em inglês para rede digital de serviços integrados, que permite transmitir sinais de dados, voz e vídeo). Isso me faz pensar que a largura de banda (capacidade de algum meio de comunicação de transportar informações) é a questão do momento e que a rapidez de processamento dos computadores deixou de ser tão importante. Isso tem implicações tremendas. Por favor, explique melhor.
Resposta: Você tem razão, a largura de banda é a questão do momento. Nos próximos anos veremos avanços interessantíssimos resultantes da conexão de computadores e televisores com redes de informação. As conexões terão grande largura de banda, permitindo a passagem de muitas informações por segundo, inclusive fluxos de áudio e vídeo.
Mas você não deve concluir que a rapidez de processamento de computadores deixou de ser importante só porque eu não uso o computador pessoal mais veloz que existe no mercado. Não se esqueça que, segundo muitos padrões, o desempenho de um computador portátil 486 como o meu é superior ao de um computador de grande porte da IBM de 20 anos atrás -e custa mais ou menos 5.000 vezes menos.
Na época áurea do grande porte, a potência de processamento custava tão caro que normalmente várias pessoas usavam um mesmo computador de forma cooperativa, dividindo o tempo de uso do aparelho. Muitas vezes essas pessoas estavam geograficamente distanciadas, ligadas ao computador por linhas telefônicas.
Hoje, pelo contrário, muitas pessoas têm dois ou mais computadores. Ninguém se preocupa em deixar um PC ocioso, mesmo que seja por horas a fio. Trabalhar com computadores passou a custar tão menos e a oferta de computadores é tão abundante que quase a tratamos como algo gratuito.
A combinação de comunicações pouco caras com computação pouco cara vai desencadear uma revolução no acesso à informação. Essa era é frequentemente descrita como a era da superinfovia.
Pergunta (JeChoong Yip, Kuala Lumpur, Malásia): Quem cunhou o nome Microsoft?
Resposta: Fui eu, mas não vi a invenção desse nome como qualquer grande realização. Era o nome óbvio para uma empresa dedicada a software para microcomputadores. Uma das vantagens de ser o primeiro em um campo é que se pode adotar o nome óbvio.
Pergunta (Platterman aol.com): Um CD-ROM pode ser contaminado por vírus, como um disquete?
Resposta: Um CD-ROM só pode ser lido. Um computador não pode escrever informações sobre um CD-ROM, como sobre um disquete. Por isso, um CD-ROM não pode ser contaminado por um vírus depois de pronto.
O único momento em que um CD-ROM pode ser contaminado é quando o vírus faz parte da informação gravada inicialmente sobre o disco. Quando o CD-ROM está pronto, o pior que pode acontecer é ele ficar riscado ou fisicamente danificado, de modo que partes dele não possam ser lidas.
Dentro em breve, mídias de alta capacidade, capazes de gravação e leitura, ficarão mais populares. Isso significa que um computador contaminado com vírus vai contaminar a mídia.
Pergunta (Matt Cartwright): A Microsoft tem algum programa de incentivo a novas idéias que funcionem? Como funciona sua versão da velha caixinha de sugestões?
Resposta: A maioria dos funcionários da Microsoft tem direito a optar por receber ações da empresa. Já constatamos que a maioria dos funcionários que são donos de uma parte da empresa quer fazer o possível para ajudá-la a prosperar. Uma maneira pela qual a ajuda acontece é oferecendo sugestões. Quando alguém faz uma sugestão especialmente boa, nós a reconhecemos publicamente em uma reunião de mil ou mais empregados e damos ao funcionário um pequeno número adicional de ações.
Não recolhemos idéias em uma caixinha de verdade porque é pouco prática. Ela fica em um lugar específico. Você vai lá, enfia um papelzinho dentro e fica sem saber se alguém vai realmente lê-lo.
Em lugar disso usamos o correio eletrônico. Assim, quem quiser fazer uma sugestão pode veiculá-la em questão de segundos. Não sei quantas sugestões nossos funcionários fazem dessa maneira por dia, mas o número chega a centenas, talvez até mesmo milhares.
Pergunta (Tristan Austin, Victoria, Austrália): Quero escrever programas de lazer e negócios. Estou começando meu último ano de faculdade. O mais indicado para mim seria um curso de ciência da computação?
Resposta: É aconselhável aprender programação, mesmo que você vá apenas usar computadores. Saber programar dá a você uma idéia de como funcionam os computadores e para que eles são realmente úteis.
Para a maioria das pessoas faz sentido aprender uma linguagem fácil, como o "Visual Basic". Muita gente aprende sozinha.
Mas se você quiser escrever programas profissionais, terá que aprender a linguagem de computação "C". O ideal seria aprender também um pouco de linguagens de máquina. Para aprender bem essas linguagens é preciso bastante esforço. Uma boa maneira de começar é tomando aulas. Se você acha que é um programador realmente bom, ou se quiser desafiar seus conhecimentos, leia "The Art of Computer Programming" (A Arte da Programação de Computadores), de Donald Knuth. Não deixe de resolver os problemas. O livro de Knuth foi editado pela Addison-Wesley, em Reading, Massachusetts (telefone 001-617 944-3700), em três volumes. Outros volumes ainda estão por sair. Os títulos dos volumes são "Fundamental Algorithms" (Algoritmos Fundamentais), "Semi-Numerical Algorithms" (Algoritmos Seminuméricos) e "Sorting & Searching" (Classificando e Procurando). Se algumas pessoas tiverem a arrogância de pensar que sabem tudo, Knuth poderá ajudá-los a compreender que o mundo é profundamente complicado. Levei vários meses e precisei de incrível disciplina para ler seu livro. Eu estudava 20 páginas, colocava o livro de lado por uma semana e depois voltava para ler outras 20 páginas. Se você conseguir ler a obra inteira, mande-me seu currículo -mande mesmo!

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência também pode ser enviada diretamente a Bill Gates no endereço eletrônico askbill microsoft.com.

Tradução de CLARA ALLAIN

Texto Anterior: IBM lucra US$ 1,3 bi no primeiro trimestre; Apple e Compaq divulgam resultados
Próximo Texto: Cruzar informações é dica para escolher CD
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.