São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 1995 |
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Atriz foi a melhor parceira de Astaire
SÉRGIO AUGUSTO
Sua precocidade -aos cinco, fazia comerciais em Kansas City, aos seis, desembarcou em Hollywood, aos 14, dançava no Texas- foi capricho de sua mãe, Lela Rogers, roteirista da Fox, mulher esperta e reacionaríssima, que no auge do macarthismo envolveria a filha na caça às bruxas. A história das duas daria um filme bem mais excitante que a de todas as outras meninas prodígios do cinema. O cinema foi o coroamento de uma carreira lapidada no palco, sapateando e cantando (foi "crooner" das bandas de Eddy Lowry e Paul Ash), cujo clímax se deu na Broadway, com as bênçãos de Gershwin. Ao vê-la roubando a cena em "Girl Crazy", um mandachuva de Hollywood providenciou um contrato, que rendeu à serelepe loura do Missouri quase uma dezena de pequenos papéis em comédias ligeiras, algumas musicais, só duas delas ("Rua 42" e "Cavadoras de Ouro de 1933") com passaporte para a posteridade. Na RKO, e não na Warner, estabeleceria o seu reinado. Nos braços do rei da dança, Fred Astaire, com quem formou a mais famosa e perfeita dupla de bailarinos do cinema. Perfeita porque complementar. O que um não tinha, o outro dava. "Ele entrou com a classe e ela com o sexo", resumiu à perfeição Katharine Hepburn. Fizeram juntos, em seis anos, nove musicais, embalados por canções de Irving Berlin, Cole Porter e outros gênios do ramo: "Voando Para o Rio", "A Alegre Divorciada", "Roberta", "O Picolino", "Nas Águas da Esquadra", "Ritmo Louco", "Vamos Dançar", "Dance Comigo" e "A Vida de Vernon e Irene Castle". Quando se separaram, foi como se o Sol perdesse a Lua, para usar a imagem de Arlene Croce, autora de um livro sublime sobre a dupla. Ginger sofreu um bocado nas mãos de Fred, sobretudo durante os ensaios. Mas o exasperante perfeccionismo do dançarino não foi a causa principal da dissolução da dupla, reatada dez anos depois em "Ciúme, Sinal de Amor". Ginger tinha outras ambições. Queria exibir seus dotes artísticos sem a sombra de ninguém. Teve sorte de pegar alguns dos melhores diretores de comédia da época, como Gregory La Cava ("No Teatro da Vida"), George Stevens ("Que Papai não Saiba") e Garson Kanin ("Mãe por Acaso"), mas foi em outra clave que tirou a prova dos nove de sua versatilidade em "Kitty Foyle", de Sam Wood, pelo qual ganhou um Oscar em 1940. Vários mestres aprimoraram o seu histrionismo. Além dos citados, merecem destaque Billy Wilder ("A Incrível Susana"), Leo McCarey ("Era uma Lua-de-Mel"), Mitchell Leisen ("A Mulher que não Sabia Amar"), Frank Borzage ("No Limiar da Glória") e Howard Hawks ("O Inventor da Mocidade"). À medida que envelhecia, perdia o viço e trocava de marido (casou-se cinco vezes), as ofertas de bons papéis foram escasseando, obrigando-a a aventuras, por sinal bem-sucedidas, no palco, onde brilhou substituindo Carol Channing em "Hello Dolly" (1965) e estrelando a versão londrina de "Mame" (1969). Não se despediu do cinema com a dignidade merecida. Era apenas a dona de um bordel em "Quick, Let's Get Married", que, de tão chinfrim, demorou seis anos para ser lançado, em 1971. Nem chegou ao Brasil. Sorte dela. E nossa. Texto Anterior: Ginger Rogers morre aos 83 anos Próximo Texto: Governo de Ruanda corta água e comida de campo de refugiados Índice |
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