São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Comgás tem mais 2 diretores irregulares

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois outros diretores da Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) passaram a acumular as funções de "consultores" na empresa, passando a receber salários mensais de pelo menos R$ 6.500.
A situação é irregular. A Constituição proíbe o acúmulo de cargos públicos, no artigo 37.
O diretor de operações, Carlos Augusto, e o diretor de engenharia, Fernando Antonio Raimundo, assumiram esses cargos na empresa na gestão do atual governador paulista, Mário Covas (PSDB).
A mudança na classificação de funções (antes, eram engenheiros) virou um artifício na Comgás para aumentar salários de direção.
Como diretores, eles ganhariam R$ 4.000. Mas ambos foram "promovidos" a consultores pela presidente da Comgás, Ieda Correia Gomes, e passaram a ganhar mais.
Já como consultores, eles renunciaram aos R$ 4.000 de cargo de diretor e passaram a receber no mínimo R$ 6.500 -excluídos outros benefícios, já que ambos são funcionários de carreira da companhia há vários anos.
Na semana passada, a Folha revelou que Ronan Castejón e Márcio Bueno de Morais, respectivamente diretores administrativo e financeiro, acumulavam também a função de consultores.
As situações de Carlos Augusto e Fernando Raimundo são "rigorosamente iguais" às dos outros dois diretores, segundo o advogado tributarista Ives Gandra Martins, ferindo a Constituição.
"É como se eles fossem consultores deles mesmos", diz Martins.
Um comunicado interno da Comgás informava ontem que "a Superintendência de Recursos Humanos em nenhum momento relatou ou alertou a diretoria da Comgás quanto à existência de quaisquer tipos de irregularidades".
Fernando Raimundo nega o acúmulo de cargos. "Quando você vira diretor, vira consultor para diferenciar dos outros", alega.
No governo Luiz Antonio Fleury (PMDB, 91-94), Fernando Raimundo, como gerente da assessoria de planejamento e gestão empresarial da Comgás, participou do processo de compra de 150 mil medidores residenciais de gás.
Raimundo era subordinado direto do ex-presidente da Comgás.
Foi uma megacompra. A média histórica de aumento de consumidores de gás encanado é de 4.000 ao ano. Ou seja, o estoque dessas peças só acabaria no ano 2032.
A necessidade máxima prevista no programa de recuperação de medidores é de 40 mil unidades.
Ao tomar posse, Ieda Gomes denunciou o caso em audiência no Palácio dos Bandeirantes.
Indagado sobre sua participação na compra, Raimundo disse: "Não assinei nada que dependesse apenas da minha autorização".

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