São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Acidentes deliberados

JANIO DE FREITAS

Mesmo que o número de acidentes automobilísticos não tenha crescido, o de atropelados cresce todos os dias: há sempre um ministro atropelando outro.
Bastou uma pesquisa indicar que o empresariado considera José Serra resistente a privatizações, sendo Pedro Malan mais favorável a elas, e o ministro do Planejamento não esperou mais que 72 horas para precipitar-se no anúncio da privatização de quatro empresas de energia das grandonas. O ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, a quem caberia a comunicação, ficou estirado no asfalto das voracidades políticas.
É o governo Orwell: todos são ministros, mas alguns são mais ministros do que outros. Parece até que há ministro mais presidente do que o próprio.
Palmas
A ser verdade que o ministro Sérgio Motta resiste à mais insistente indicação para a presidência da Telerj, enfim há motivo para dirigir-lhe aplauso.
Ser ex-marido de mulher de peessedebista não é credencial para presidir estatal. Se bem que o mesmo ex mantém-se na direção de outra empresa oficial por ação também do seu substituto matrimonial, que obteve a nomeação no governo Itamar.
A primeira nomeação pode ser vista como compensação. Mas a segunda já criaria a profissão de ex.
Um a zero
A anulação das 349 concessões feitas no finzinho do governo Itamar, na área de telecomunicações, passou pelo primeiro crivo. O projeto de decreto legislativo do deputado Tilden Santiago, sustando as concessões, foi aprovado pela primeira comissão técnica a examiná-la na Câmara e vai agora para a segunda, de Constituição e Justiça, com probabilidade de outra aprovação.
A atual composição do Congresso está provocando surpresas sucessivas. Quando apresentado, o projeto de Santiago foi tido como gesto ingênuo. Mas lá vai ele.
Protesto
Manifesto de 85 professores do ensino oficial em Campinas faz dois protestos contra artigo aqui publicado.
Primeiro, por não ter dito que "a altivez do governador Covas frente ao 'dedo atrevido' da professora Delza foi a mesma com que afirmou que estaria esfacelando o salário, não apenas dos professores, mas de todo o funcionalismo". E, além disso, porque "seria necessário" dizer "que o 'dedo atrevido' da mesma se ergueu junto à profunda indignação de quem tem uma história de vida que se confunde com a construção de uma escola cidadã, de uma nação cidadã, e que jamais poderá assistir de forma impassível ao sucateamento da educação".
Quércia e Fleury, suponho, estão agradecidos por terem feito o sucateamento sem por isso encarar, jamais, um dedo atrevido.

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