São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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França descobre o Brasil em sete livros

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

O leitor francês tem a chance de descobrir que a literatura brasileira não vive só de Jorge Amado. Nada menos que sete livros de autores brasileiros foram lançados nos últimos dois meses na França.
Nenhum deles se aproxima das tiragens de Amado, de Paulo Coelho ou de José Mauro de Vasconcelos (autor de "Meu Pé de Laranja-lima", adotado nas escolas).
Mas a maioria teve bom espaço na imprensa -primeiro passo para chegar ao grande público.
"Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, foi lançado em formato de bolso, e "Amar, Verbo Intransitivo", de Mário de Andrade, pela Gallimard, uma das maiores editoras francesas.
A obra-prima de Guimarães Rosa foi escolhida para festejar os 15 anos da coleção "Domínio Estrangeiro", da editora 10/18.
"Queremos lhe dar a publicidade que ele merece", explica a assessora de comunicação da editora, Emmanuelle Heurtebize.
Até autores antigos são relançados, como o Visconde de Taunay ("A Retirada de Laguna", pela editora Phébus). Autores contemporâneos, como Lygia Fagundes Telles, Edilberto Coutinho e Antonio Candido, também foram lançados recentemente.
"Memorial de Aires", de Machado de Assis, pela editora Metailié, foi o livro brasileiro com maior sucesso de crítica.
Anne-Marie Metailié, 50, responsável pela editora, publica autores brasileiros há 15 anos -inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso, dez anos atrás. "Somos uma editora que enxerga o futuro", brinca.
Entre os próximos lançamentos da editora, figuram "Memorial de Maria Moura", de Rachel de Queiroz, e "O Bom Mulato", de Adolfo Caminha.
Em 1996, deve aparecer " A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna -em versão inédita, que o autor disse ter feito "para europeus e brasileiros sensatos".
"Amar, Verbo Intransitivo" foi outro livro bem recebido pela crítica. "Há em Mário de Andrade um humor permanente, que não é ironia propriamente dita, já que ele conserva uma total compaixão pelos seus personagens", observa o crítico e autor Mathieu Lindon.
Clarice Lispector já teve 13 livros publicados na França pela Editions des Femmes, especializada em escritoras. O mais recente, lançado este mês, é "A Descoberta do Mundo", coletânea de crônicas. O prestígio da escritora na França já ultrapassou o "gueto" da literatura feminina.
"Clarice Lispector fala sempre dos outros e de si, com uma generosidade e um egoísmo que poderiam dar tanto vontade de beijá-la como de lhe dar um tapa", analisa Mathieu Lindon no "Libération".
Outra brasileira, Lygia Fagundes Telles, teve os contos de "Antes do Baile Verde" lançados pela Le Serpent à Plumes, que publicara "Maracanã, Adeus", de Edilberto Coutinho.

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