São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Ingleses põem em cena luta de Zumbi

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

A companhia de teatro inglesa Black Theatre Co-operative começa na próxima semana os ensaios da peça "Zumbi - Flame of Resistance" (Zumbi - Chama de Resistência), sob direção do brasileiro Márcio Meirelles.
A peça é a versão inglesa da obra que está sendo montada em Salvador (BA) e marca os 300 anos da morte de Zumbi, lembrados neste ano.
Com 15 atores, numa produção de cerca de US$ 400 mil, a peça inicia sua temporada em 29 de junho, no Theatre Royal Stratford East, em Londres, onde fica até 22 de julho.
Formada em 1978, a Black Theatre Co-operative nasceu da necessidade de criar espaço de atuação para atores negros. A sua criação levou ao nascimento de outros grupos negros de teatro na Inglaterra.
A companhia teve o primeiro contato com o projeto de Márcio Meirelles em 1993, quando o brasileiro esteve em Londres. Até então, o grupo não tinha nenhuma informação sobre Zumbi ou os quilombos formados no Brasil por escravos negros.
Segundo a produtora Beverley Randall, 35, "Zumbi" não será restrita à vida do líder negro ou mesmo à realidade brasileira. A realidade de outras comunidades negras em diferentes países deverá estar presente na peça.
"Ela terá histórias que refletem a vida de Zumbi, histórias atuais", diz Randall. "Em todo lugar do mundo onde há escravidão, existe um Zumbi."
Segundo ela, a montagem fará diversas vezes uma viagem do presente para o passado, relacionando a luta da raça nos dias de hoje com a luta pela liberdade nos quilombos brasileiros.
Para Randall, a peça será bem recebida pelo público britânico, mesmo que a vida de Zumbi não seja conhecida no Reino Unido.
"Eu acho que a história tem um apelo geral", diz. "E hoje há grande interesse em coisas do Brasil na Inglaterra, não só em Londres."
No início deste mês, Beverley Randall e a assessora de comunicação Gillian Christie, 35, foram a Salvador para conhecer de perto a cultura local e assistir à preparação da versão brasileira da peça.
"Foi muito importante ver Salvador de perto", diz Randall. "Nós tivemos a chance de acompanhar os ensaios e ver como Márcio trabalha com os atores."
Sem entender o que os brasileiros diziam no palco, ela afirma que a montagem brasileira consegue transmitir, com a movimentação e expressão dos atores, muitos dos temas contidos na história.
A produtora diz ter ficado admirada com a música de Salvador, principalmente os grupos de percussão que viu nas ruas da cidade, e chegou a levar para Londres algumas fitas de músicos baianos.
A música da Bahia estará presente na versão inglesa. Para isso, os atores terão aulas de percussão com um diretor musical de Salvador.
A coreografia também será feita por um brasileiro, mas a Black Theatre Co-operative ainda não sabe se sua versão terá algum número de capoeira, por causa da dificuldade dos seus movimentos.
A peça será a maior produção da história da companhia inglesa, que geralmente faz montagens com apenas três ou quatro atores e com menos da metade do custo previsto para "Zumbi".
Depois de Londres, a peça fará uma turnê por várias cidades da Inglaterra e Escócia. No segundo semestre, "Zumbi" será levada para o festival de Edimburgo.

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