São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Menem elogia autocrítica de militar

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Líderes políticos e personalidades argentinos, entre eles o escritor Ernesto Sábato e o presidente Carlos Menem, elogiaram a autocrítica do chefe do Exército, Martín Blaza, por atrocidades cometidas na ditadura militar (1976-83).
"É histórico. É preciso comemorar as declarações do general Balza", disse Sábato, que presidiu em 1984 uma comissão investigadora dos crimes da ditadura.
O chefe do Exército admitiu, em programa de TV terça à noite, que foram usados "métodos ilegítimos, inclusive a supressão da vida" para obter informações na luta contra supostos subversivos.
O presidente Carlos Menem qualificou de "excelente" o pronunciamento de Balza.
Ele disse que o teor das declarações teve autorização do ministro da Defesa, Oscar Camillión. "As outras Armas tomarão a mesma atitude", afirmou Menem.
Balza falou no programa de televisão do jornalista Bernardo Neustad. Num breve relato, fez um retrospecto da repressão e, num gesto inédito, assumiu a responsabilidade pelos fatos.
"A espiral de violência criou uma crise sem precedentes", disse o general, referindo-se à repressão contra grupos subversivos como o ERP (Exército Revolucionário do Povo) e os Montoneros.
Mas ele negou a existência de listas de desaparecidos (entre 9.000 e 30.000 ao todo), que deveriam ser eliminados.
Segundo o sargento Victor Ibañez, o Exército tinha listas de 2.300 pessoas que foram lançadas vivas ao mar. O ex-capitão Adolfo Soilingo disse que a Marinha participou de operação semelhante.
A ex-presidente María Estela Martínez de Perón, a Isabelita, derrubada pelos militares em 1976, afirmou que levará "para o túmulo" sua opinião sobre os delitos da repressão militar.
O "aniquilamento" da subversão pelas Forças Armadas foi decidido no governo de Isabelita e posto em prática pelos militares.
"Aniquilar significa reduzir a nada o inimigo", disse o general Fernando Santiago. Segundo ele, o Exército "só cumpriu seu dever.
"Parece que os únicos que têm de dar explicações somos nós, que ganhamos", disse o contra-almirante Horacio Zaratiegui.
A presidente das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, afirmou que Balza foi "hipócrita", por ocultar os crimes durante a ditadura. O arcebispo de Resistencia disse que a Igreja Católica do país foi muito "benigna" ao não condenar "a violência do Estado".

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