São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Menos mal

Nas últimas duas semanas houve uma pequena mas notável mudança de humor nos mercados financeiros. O anúncio de uma nova disposição privatizante teve efeito revigorador nos últimos dois dias, mas a reversão do pessimismo mais extremado vem de antes.
As Bolsas ensaiaram uma reação mais sustentada já a partir do início da viagem do presidente FHC aos EUA. O mercado de câmbio, ainda que mantenha saldos negativos, não foi sobressaltado pelas corridas contra o real, como as de março, e a taxa de câmbio manteve-se estável.
Externamente as condições do México e, principalmente, da Argentina passaram por uma evolução favorável a partir do momento em que o FMI aportou novos recursos. E houve uma série de declarações otimistas sobre o Brasil de autoridades financeiras internacionais, a começar pelo diretor-gerente do próprio Fundo, Michel Camdessus. Mesmo a queda do dólar nos mercados internacionais, que também criava tensão, parece ter chegado a um limite.
A atmosfera menos alarmista, entretanto, deve ser avaliada com cautela. Há por exemplo razoável consenso internacional quanto à inevitável queda do aporte de recursos às economias latinas. Os governos devem a todo custo evitar a ilusão de que a crise está superada. A falta de confiança é grave, generalizou-se e superá-la exigirá mais que boas intenções e retórica.
Isso é especialmente válido no caso brasileiro. Declarações de intenção privatizante não são novidade. E, a rigor, os números diários do mercado de câmbio continuam negativos, em especial os que se referem ao movimento financeiro. Eventuais entradas mais fortes de recursos no curtíssimo prazo podem nada mais ser que a volta do conhecido "hot money", sempre pronto a tirar partido das mudanças de humor (e também dos juros saborosíssimos), mas sem querer apostar no longo prazo. Será igualmente arriscado contar com esses recursos ariscos para equilibrar as contas externas.
O movimento cambial tornou-se a partir de março um termômetro da economia tão ou mais importante que a inflação ou os juros. O desempenho dos fluxos ao longo de abril mostra que, se a solução dos problemas ainda está longe, ao menos o termômetro não quebrou e a enfermidade não se agravou. Não é o melhor dos mundos, mas estar menos mal já é uma boa notícia.

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