São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Não há almoço grátis

A manutenção de taxas de juros elevadíssimas continua a dificultar a normalização do sistema de apoio à agricultura. Ao elevado custo financeiro soma-se a ação do governo no sentido de conter a elevação dos preços agrícolas para combater a inflação. Altos custos e baixos preços de venda reduziram a já errática lucratividade do setor.
Com a correção dos empréstimos pela TR, como vinha defendendo o governo, os juros para a agricultura mantêm-se inferiores em cerca de 40% aos que se podem obter para o financiamento normal de outras atividades produtivas. Hoje, os juros da dívida agrícola oscilam ao redor de 4% ao mês. Para os empréstimos de capital de giro, os bancos cobram em torno de 8%.
Em vez de reduzir as taxas de juros, o governo ameaça enveredar por mais um atalho. Cogita-se agora de utilizar os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador -destinado à cobertura do seguro-desemprego- para financiar a agricultura, operação que envolve por certo riscos significativos. Seria mais um desvio de funções; mais um artifício pelo qual cobrem-se certas carências criando outras. Fundos de destinação social não devem ser usados para cobrir despesas inesperadas do governo.
Ao votar em favor do fim da correção das dívidas do setor agrícola pela TR, o Congresso impôs ao Banco do Brasil -e indiretamente ao Tesouro Nacional- o ônus pelo descasamento entre preços e juros. A decisão dos parlamentares -que derrubou um veto presidencial, mas está sendo contestada pelo governo- visa a preservar os interesses dos devedores agrícolas, mas não definiu de onde viriam os recursos para tanto.
Não resta dúvida de que é absolutamente indesejável prejudicar a produção de alimentos. Mas essa constatação é apenas o início do problema. A questão que está colocada é arbitrar o custo da atual política antiinflacionária. A importação facilitada conseguiu derrubar os preços, os juros altos visam a conter o consumo. A diferença tem de ser paga por alguém.

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