São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Tomates, ovos e CUT

LUIZ ANTÔNIO DE MEDEIROS

Ao longo de toda a minha vida, dedicada à luta pelo progresso e pela conquista de resultados reais para os trabalhadores, fui vítima da repressão (que me deixou dois anos no cárcere e seis no exílio) e, recentemente, das mais variadas calúnias.
Em nenhum momento, entretanto, a campanha dos que tentam abater-me chegou a ser tão encarniçada quanto agora, comandada pelos grupos atrasados e corporativistas que se consideram "de esquerda". Apavorados com a perspectiva de derrota para suas idéias, eles se apegam às supostas denúncias de um desqualificado, publicadas pela Folha, para atingir minha honra.
Ao publicar as fantasias do pobre diabo (que responderá nos tribunais por sua delinquência), a Folha cumpre, embora a meu ver injustamente, com seu papel, que não discuto. Tão logo surgiram as supostas denúncias, fui à Procuradoria Geral da República e pedi que meus atos fossem investigados, o que já vem ocorrendo. Nada devo e nada temo. Espero, portanto, por justiça.
A publicação, nesta mesma Folha, de um artigo leviano e desvairado do presidente formal da CUT, Vicente P. da Silva, dirigente sem autonomia de uma central que efetivamente não controla, obriga-me a resposta pronta e imediata. Os que hoje clamam por transparência e ética, princípios aos quais dediquei minha vida, são os mesmos que tudo fizeram para impedir a CPI que investigaria a origem dos financiamentos da CUT e seu envolvimento no suporte das campanhas do PT, partido do qual não passa de mero departamento sindical.
Do que a CUT e o PT tinham medo? De verem surgir os fluxos de dinheiro de organizações socialistas e religiosas européias que entraram legal e ilegalmente no país? Ou de que se revelassem, enfim, os misteriosos caminhos que possibilitaram ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, do qual Vicente P. da Silva era na época presidente, desviar recursos para a campanha presidencial de Lula em 1989?
Faço aqui um desafio: que o Congresso aprove finalmente a CPI e que ela possa investigar todo o sindicalismo, tanto o nosso quanto o patronal. Que podemos temer? Quanto à CUT, se o dinheiro que veio de fora era para defender suas idéias, que se assuma seu recebimento e se preste contas. Se parte foi desviado para a política partidária, sempre é tempo de se admitir o erro.
Os mesmos petistas que receberam dinheiro do grupo Odebrecht para financiar suas campanhas eleitorais, e depois, envergonhados com a divulgação, prometeram hipocritamente devolver tudo aos cofres da empresa (o que ainda não cumpriram), são os que agora consideram antiético termos recebido dinheiro de empresários progressistas, transparentemente, sem nenhum compromisso, para organizarmos o congresso em que foi fundada a Força Sindical, que nasceu pequena, mas é hoje, por seu próprio esforço, a maior central de trabalhadores da iniciativa privada do país.
Vem daí, estejam certos, a campanha de desinformação e calúnias. De que a Força Sindical é acusada, afinal? De ter feito parceria com empresários modernos, tal como na Alemanha, na Suécia, em Israel ou no Japão? De ter apoiado as reformas estruturais propostas por Collor, tocadas frouxamente por Itamar na revisão constitucional, e que só agora o presidente FHC retomou, com nosso apoio?
Pois são estas as acusações: a Força Sindical e seu presidente defenderiam "interesses empresariais", enquanto a CUT, central representativa, basicamente, dos funcionários públicos e das estatais, seria a impoluta defensora da classe trabalhadora.
Quanta mentira! O que se trava, na verdade, é uma luta em que, para a CUT, quem não defende o Estado ineficiente é "bandido", "pelego" e "traidor". Quem defende a manutenção dos privilégios é santo e justo!
Mas vamos ao que interessa: nós, que no início criticamos o Plano Real, tivemos a coragem de admitir o erro e assumimos hoje que é preciso fazer as reformas para que a estabilização da moeda não seja apenas mais um sonho.
Este país tão rico não suporta mais viver em compasso de espera, refém dos políticos corrompidos, dos empresários que privatizaram o Estado e dos super-funcionários públicos e estatais, uma nomenklatura que se abastece de aposentadorias duplas, salários imorais, comissões e mentiras.
Estes são os verdadeiros bandidos, que não têm coragem de vir a público defender suas regalias e se regozijam quando a CUT ilude trabalhadores e estes vão às ruas contra as reformas que poderiam tirar o Brasil do atraso e iniciar um processo de desenvolvimento sustentado. Não se faria o milagre de distribuir prontamente pão para todos, mas seria o início de uma nova era.
Para sairmos da pobreza é preciso apenas trabalho, capital e vontade. Só assim poderemos gerar riquezas e criar condições para sua distribuição. Para trabalhar, ou seja, para criar empregos, é preciso que o capital seja investido, e isso não se consegue sem a criação de um ambiente favorável tanto ao aporte do capital estrangeiro quanto à segurança para o investidor brasileiro.
É uma lástima que seja assim. O Plano Real está correndo sérios riscos, a crise no México abalou a confiança em nosso futuro e a pobreza mental e ética de parte dos nossos congressistas joga sobre o país um manto de dúvidas.
O Brasil precisa das reformas. O projeto de Collor não teve continuidade depois do impeachment. E Itamar não fez a revisão. Se o Brasil não se modernizar agora para competir numa economia globalizada, estaremos condenados a ser mesmo um país de incompetentes.
Agora, a economia estabilizada e a perspectiva de um avanço modernizador com FHC deixou mais agressivas as forças do atraso. Tenhamos coragem de nomeá-las: são estas que se alojam no PT socialista e derrotado, nos xenófobos do PDT, na CUT atrelada às benesses das estatais, em certos políticos que ainda se nutrem deste Estado falido, em empresários incompetentes que preferem contratos viciados com o Estado do que competir em um mercado aberto.
Esta é a verdade: estamos vivendo no Brasil uma batalha da mentira contra a verdade, do atraso contra o progresso.
O Brasil está dividido em dois grupos. O grupo mais numeroso, o das reformas, encontra-se desorganizado, dividido e mal armado. O menos numeroso, da contra-reforma, grita alto, chuta e joga tudo, de palavrões a ovos e tomates sobre o grupo majoritário.
Este é, então, nosso dilema. Somos muitos e estamos certos. Mas, divididos por questões menores, nos desgastamos e é a minoria do barulho e da violência que pode ganhar a batalha. Não recuemos em nossa luta e nos organizemos para o bom combate. Se estamos certos do que defendemos, a vitória será nossa, da imensa maioria da sociedade, que está conosco e quer as reformas.

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