São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Castelos do Loire contam história do país

ALCINO LEITE NETO
DO ENVIADO ESPECIAL À FRANÇA

Um rio francês? E a maioria diz o Sena, que recorta Paris. Mas há um rio que corta a França: o Loire (pronuncia-se "luar"), o mais longo do país e nem um pouco provinciano em sua história.
À margem de seu curso intranquilo de 1.200 quilômetros, a natureza espalhou uma paisagem sem defeitos -e os homens, uma dezena de cenários para suas aventuras gloriosas ou sanguinárias.
Foi ali, também, que no século 15 floresceu a Renascença francesa. Uma universidade humanista foi inaugurada em Orléans. Gráficas se espalharam pela região. Foram fundadas academias literárias, onde brilhou o gênio de Ronsard.
Jacobinos
A visita ao vale do Loire, chamado "o jardim da França", é o mesmo que a travessia destes cenários, como os castelos de Amboise, Blois, Chambord, Chenonceau e outros tantos.
Hoje, os castelos são verdadeiras empresas de entretenimento em massa. Alguns deles, muito embora tombados pelo patrimônio público, são administrados ou pertencem a entidades privadas.
Milhares de turistas entram e saem de suas salas com o despudor e a pressa de uma leva de jacobinos pós-modernos.
Tudo enfatiza um mundo demasiadamente esvaziado, as salas vazias, as poltronas mortas, as camas frias. Portanto, um mundo que foi se instalar nos filmes.
E, então, a essa altura, como visitar um castelo? Cruzando monotonamente seus salões? O olhar perdido entre o retrato de um nobre barbudo e a cadeira de veludo da dama que morreu esquartejada?
Um castelo admite dois tipos de turistas: aquele que passa como num shopping center de antiguidades e o que deseja reconstituir pacientemente os cenários históricos sobre as ruínas que ficaram.
Para fluir destes prédios monumentais é preciso tornar-se uma espécie de legatário de fantasmas e de fantasias anacrônicas. O visitante como historiador improvisado e narrador introvertido é o melhor antídoto ao turista voyeur.
Portanto, vá com calma em sua travessia e bem acompanhado (um bom guia, um bom livro de história). A recompensa será maior.
Há toda uma quantidade de histórias que cruzam e se emendam, de castelo a castelo, criando entre lugares tão diversos uma volumosa aventura à la Dumas.
A extraordinária arquitetura, restaurada e limpa, é apenas a fachada fria destes dramas inumeráveis, que vêm desde a época medieval e vão se desenrolando ao longo da história.
É uma delícia que não se deve desperdiçar: apanhar o fio da trama e remontar a tapeçaria.

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