São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 1995
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Saint-Michel é visão grandiosa

ALCINO LEITE NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

Sujeito à volubilidade das marés, o monte Saint-Michel ora é continente, ora é ilha.
Nos dois casos, maré alta ou baixa, ele provoca sempre uma visão grandiosa e dilacerante.
Suas torres góticas pedem o mais alto, o celestial, enquanto o granito da arquitetura firma as paredes severamente na Terra, mas em solo invisível, submarino. A construção pesada parece flutuar ao mesmo tempo em que simula a extremidade de um mundo que fosse emergir de súbito.
É um lugar sagrado, portanto, espécie de experiência sensível da disputa entre o efêmero e a eternidade, o oculto e o revelado.
Foi, aliás, de uma visão religiosa que, contam, o lugar se originou. No remoto ano de 709, o abade de Avranches recebeu a visita do próprio arcanjo São Miguel e resolveu construir uma capela naquela ilhota granítica.
Desde então, o lugar recebe levas de peregrinos que sobem suas ruelas góticas e sinuosas a fim de alcançar a abadia, construída ao longo de quase seis séculos.
Verdadeira relíquia arquitetônica, a abadia é dirigida por beneditinos -seis monges, um décimo quase da população total de Saint-Michel: 72 pessoas.
Na descida do monte, fiéis da fé ou do turismo querem, é claro, abastecer o estômago. Raros são os que deixam de provar dos famosos omeletes à la Mère Poulard, a boa senhora que, no século 19, cozinhava como uma mãe para pescadores famintos.
(ALN)

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