São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Sem reforma, FHC ameaça manter fundo de emergência

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Em entrevista publicada ontem no jornal britânico "Financial Times", o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que poderá lançar mão novamente do Fundo Social de Emergência.
"Se nós estimarmos que será difícil conseguir aprovar a reforma este ano, vamos recorrer de novo ao fundo de emergência", disse.
Quanto à privatização da Vale do Rio Doce, o presidente previu que ela levará dois anos: "Senão, o Congresso tentará anular minha decisão por não proteger o interesse nacional".
O jornal deu notícia de primeira página à decisão do governo de privatizar a Eletrobrás. Ressalvou, porém, que as complicações legais podem fazer com que a venda "não seja feita neste século".
Na entrevista, FHC criticou o voto proporcional nas eleições legislativas -no qual as cadeiras na Câmara são distribuídas proporcionalmente à votação de cada partido em cada Estado.
Ele defendeu um sistema misto, próximo ao da Alemanha, com candidaturas individuais e listas partidárias.
FHC criticou também a "fracassomania" dos brasileiros. "O problema com os brasileiros, segundo seu novo presidente, é que eles não conseguem acreditar na sua sorte", relata o texto.
"Ficamos dizendo: 'É bom demais para ser verdade"', disse aos repórteres Angus Foster e Quentin Peel, referindo-se ao medo de que o Plano Real fracasse.
Fernando Henrique disse também que é preciso aumentar "o papel social do Estado".
"O mundo mudou muito, mas não no que diz respeito à injustiça social. O Brasil não é mais subdesenvolvido, mas temos de lutar contra a pobreza. Em um país como o Brasil, não se pode mais dizer que o mercado tomará conta de tudo". Ontem, em Brasília, FHC reiterou as declarações ao "Financial Times" sobre as consequências da falta de reformas.
"Nós temos como manter a estabilidade sem as reformas, mas a um preço muito alto. A um preço de não-tranquilidade, de estarmos permanentemente utilizando todos os instrumentos de que dispomos para evitar que a inflação volte".
Segundo a assessoria de imprensa do Planalto, sem as reformas, FHC deve mesmo "prorrogar o FSE".
Colaborou Sucursal de Brasília

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