São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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O dique rompido

JANIO DE FREITAS

Raros foram no Congresso os desabafos como o do senador Jader Barbalho, líder do PMDB no Senado. E raros não só na autenticidade da exaltação, mas também na massa de verdades liberadas. O dique de Jader Barbalho foi rompido pelo noticiário de ontem, que insistia em motivações meramente fisiológicas do PMDB, em suas dificuldades com o governo. O transbordamento foi, saudavelmente, muito além.
Existe mesmo, por parte do governo, do PSDB e do PFL, o propósito de ferir de morte o PMDB. "De implodi-lo", diz Barbalho. Os três partidos têm projetos de controle do Poder, seja o atual ou o futuro, e neste sentido o vale-tudo é a regra. Mas, no sentido imediato, há uma contradição masoquista do governo e dos dois partidos que o dominam.
O PMDB integrou-se ao bloco do governo no Congresso. É o maior partido no Senado. É o maior partido na Câmara. Se é governo e se é o maior segmento partidário do governo, seria lógico ter no governo mesmo uma participação reconhecedora da sua expressão. O que se passa, no entanto, é o oposto. Tudo é feito para minimizar ou ignorar os peemedebistas. Daí o seu protesto. É fisiologismo? Pode haver algum em alguns ou em muitos, mas em termos políticos não é.
Se o PSDB tem dificuldades de convívio com o PMDB que incorpora correntes de Quércia e de Fleury, e, entre os pefelistas, é compreensível a resistência a dividir mais a influência sobre o governo, então os governistas não têm do que se queixar quando o PMDB se mostra reticente. Ou, como diz o noticiário, rebelde. Pretender que o maior dos partidos seja, a um só tempo, hostilizado e serviçal, revela insensatez que ultrapassa de longe a inabilidade política.
Só pode proceder da mesma insensatez a incompreensão do governo ante os problemas dos seus projetos no Congresso. Os peessedebistas armaram e alimentam o noticiário da rebeldia, da inconfiabilidade do PMDB, e passaram a acreditar eles próprios nas artificiosidades de sua autoria. Perderam, com isso, a visão de que são eles os criadores da crise de que tanto se queixam. E pela qual, se quiserem solucioná-la, vão agora pagar um preço muito mais alto.
Jader Barbalho tem razão ao concluir que a direção do PMDB não negociou sua participação nas forças do governo: apenas aderiu, considerando a enfraquecedora derrota de Quércia na eleição, mas ignorando o êxito inigualado nas eleições de deputados e senadores. A negociação terá que ocorrer agora. E a exaltação peemedebista parece não se dar conta de que não haveria melhor ocasião para o partido: o governo já deve ter aprendido o quanto precisa do PMDB no Congresso. Se é que sua insensatez política tem limites.

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