São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Reféns choram em contatos com polícia

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON; DA REPORTAGEM LOCAL

A resistência psicológica das quatro mulheres que estão como reféns em Marechal Cândido Rondon (PR) está acabando. Além delas, três crianças permanecem sob do domínio de três assaltantes desde segunda-feira.
Ontem, as mulheres não resistiram à tensão e choraram em todos os contatos com a polícia. Elas têm sido as interlocutoras entre assaltantes e policiais.
A mais abalada seria Úrsula Kraemer, mãe dos gêmeos Fabrício e Fabiano, também reféns na casa do empresário Roni Martin.
O médico Roberto Biagio Alegro, que anteontem consultou os meninos, disse que eles não entendem por que "foram retirados de casa, levados à casa dos Martin e não podem sair de lá".
Desde as 12h30 de segunda-feira, quando cercou a casa, a polícia, comandada pelo delegado Ricardo Noronha, tem usado a tática da "inquietação", que consiste em manter os assaltantes em constante pressão emocional.
Para isso, a polícia simula invasões e tiroteios, além de manter um motor permanentemente ligado. Em resposta, os assaltantes passaram a usar as mulheres nos contatos, numa tentativa de desestabilizar a estratégia policial.
O secretário da Segurança Pública do Paraná, Cândido Martins de Oliveira, admitiu que o ânimo dos reféns não é o mesmo do "primeiro dia de cárcere privado".
Segundo Jair Mari, 41, professor livre-docente do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (antiga Escola Paulista Medicina), pessoas expostas a situações de extremo estresse, como no caso dos sete reféns, podem sofrer mudanças psicológicas importantes.
Mari afirmou que as reações à violência podem levar meses para aparecer. "Depende da estrutura da pessoa, se ela tiver uma fragilidade psíquica, o risco de desenvolver o problema é maior."
Segundo ele, um sintoma típico é a lembrança da situação de violência. "Até um filme pode despertar a lembrança e causar uma crise de ansiedade ou de pânico."
A ansiedade se caracteriza por momentos de inquietação e tensão, taquicardia, suor, pesadelos e insônia. No pânico, os sintomas são acentuados, com possível falta de ar e sensação de morte iminente.
O psiquiatra Mauro Moore Madureira, 56, afirma que o desfecho é fundamental para determinar a reação psicológica. Uma solução suave e sem mortes, por exemplo, evitaria problemas maiores.
As sequelas psicológicas podem ser tratadas através de psicoterapia ou do uso de medicamentos, dependendo da gravidade do caso.
* Colaborou a Reportagem Local.

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