São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Inteligência norte-americana é burra

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Qual a primeira imagem que vem em mente ao se conceber um terrorista? Antes de Oklahoma, a resposta mais plausível seria: "Um barbudo de kafieh e kalachnikov em punho."
O estereótipo do terrorista árabe não é acidental. O fim da Guerra Fria acabou com chavões como o agente da KGB de sobretudo preto e o intelectualóide do Baader-Meinhoff.
No lugar desses vilões, surgiu o clichê de um novo inimigo da ordem mundial, o fundamentalista islâmico, disposto, em nome de Alá, a voar pelos ares com sua bomba.
Ninguém assumiu responsabilidade pela explosão do jumbo da Pan Am, ocorrido há quatro anos sobre Lockerbie, Escócia, mas até hoje a imprensa mundial aponta, com gosto e sem provas, o dedo aos árabes.
No cinema, terroristas morenos falando um idioma ininteligível em filmes como "De Volta Para o Futuro" e "Romance Perigoso" intensificam o preconceito contra árabes. Claro, centenas de atentados cometidos nos últimos anos por radicais islâmicos também reforçam o estigma.
Mas isso não atenua a ingenuidade demonstrada pelo governo americano nos momentos que sucederam a explosão do prédio de Oklahoma.
A despeito de relatórios sobre a possibilidade de grupos de direita planejarem ações terroristas nos EUA e apesar de o crime ter ocorrido à época do aniversário da explosão da seita davidiana, o FBI insistiu em ventilar extra-oficialmente que os principais suspeitos eram árabes.
A incapacidade de os americanos entenderem o outro colocou o Irã, a quem os EUA destinavam a segunda maior verba armamentista depois de Israel, nas mãos de um aiatolá que deflagrou a revolução desde Paris.
Conheci no Brasil agentes da CIA que não sabiam português, frequentavam só clubes para estrangeiros e colocavam os filhos em escolas de língua inglesa. Em suma, viviam aqui como se estivessem em Idaho.
Imagine o teor dos relatórios que mandavam à Langley, central da CIA na Virgínia...
Não espanta que, em visita ao Brasil, Reagan nos trocou pela Bolívia. Só pode ter sido briefado por funcionários da inteligência de seu país.

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