São Paulo, sexta-feira, 28 de abril de 1995
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Os argumentos da Febec

LUÍS NASSIF

A coluna recebe correspondência da Febec (Federação Brasileira dos Exportadores de Café), assinada por mais seis entidades ligadas ao comércio, expondo seus argumentos em favor da volta das cotas de exportação.
Em março passado, a APPC (Associação dos Países Produtores de Café) decidiu criar faixas de preços de defesa do mercado, com a volta de mecanismos de retenção de café pelos produtores e de cotas de exportação, visando impedir a formação de estoques em mãos dos países consumidores.
Até agora o Brasil não teria implantado nenhum deles, o que -segundo o documento- teria contribuído para levantar dúvidas sobre a posição brasileira.
Registre-se que o governo dispõe de estoques de 14 milhões de sacas. Portanto, existe retenção, sim.
O que a Febec alega é que existe escassez de café para o mercado interno. Com isso, os preços internos ficaram mais altos que os externos, reduzindo a oferta de café para exportação.
O governo será obrigado a colocar no mercado parte de seus estoques. Mas haveria o risco -segundo o documento- de os estoques colocados serem desviados para exportação, deprimindo as cotações internacionais.
Esse raciocínio peca pela lógica. O preço de intervenção do governo (isto é, o preço a partir do qual ele vende café internamente) é compatível com os preços praticados na Bolsa de Nova York.
À medida que os estoques forem sendo colocados, o produto ficará por aqui enquanto os preços internos forem superiores aos de Nova York. Quando os preços internos caírem abaixo dos internacionais, interrompem-se os leilões. É assim que funcionam os mercados, ou não?
No plano tático, é muito mais razoável a proposta de colocar os estoques em leilão, depois de superado o preço mínimo. Abastece-se o mercado, atende-se o consumidor interno e ajuda-se no combate à inflação, sem o risco da volta das cotas.
No plano estratégico, a volta das cotas seria desastrosa. Pela primeira vez em décadas, a cafeicultura está despertando para a modernização. O fantasma do extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café) só agora começa a ser exorcizado.
Em regiões, como em Patrocínio (MG), os cafeicultores se organizaram e passaram a desbravar o mercado externo por sua iniciativa e risco.
Temas como qualidade e produtividade estão rapidamente se impondo sobre a velha visão cartorial que marcava o setor. Mesmo que os pleitos dos exportadores tivessem fundamento, seria um crime, por mera questão tática, abortar esse movimento de renovação da cafeicultura.

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